Revelar episódios de sua vida pessoal para o leitor pode ser divertido. Foto: FreePik

Colunas

Nove verdades e uma mentira

Nos anos 1970 tinha um bandido que me protegia e não deixava roubarem minha casa. Verdade ou mentira?

13 de abril de 2022

Clotilde Tavares

Faz um tempo me mandaram um teste pelo Facebook que consistia em você publicar dez afirmações sobre você mesmo, sendo que apenas uma era falsa. Todas as outras haveriam de ser essencialmente verdadeiras. Aí as pessoas palpitavam e, dentro de um prazo determinado, você publicava a resposta. Eu me diverti muito com a brincadeira e resgatei-a praticamente na íntegra para esta coluna, porque o texto ficou engraçado e revela episódios inusitados da minha vida, coisas que eu nem me lembrava mais. As respostas vão logo abaixo, para você matar a curiosidade.

AS AFIRMAÇÕES

1 – Meu livro A Botija (Editora 34, 2006) vendeu quase 40 mil exemplares.
2 – Uma noite tomei uma coca-cola com Paulo Coelho enquanto explicava a ele a diferença entre individualidade e personalidade.
3 – Aos 30 anos sentia muito orgulho do meu corpo escultural.
4 – Na relação, não exijo e nem prometo fidelidade.
5 – Nos anos 1970 tinha um bandido que me protegia e não deixava roubarem minha casa.
6 – Já fiquei com um cantor muito famoso que não posso revelar o nome. Ainda hoje temos carinho.
7 – Meu pai não queria que eu me casasse, mas que eu tivesse amantes.
8 – Durante a adolescência acalentei o sonho de ser estilista de moda em Paris.
9 – Fui casada quatro vezes.
10 – Tenho vontade de me casar de novo.

Aqui você pode parar um pouco e dar seu palpite.

AS RESPOSTAS!
A maioria dos palpites foi sobre o item 7 e o item 10. Ninguém acertou, mas Ana Morena se aproximou perigosamente da resposta certa. Como é filha, não vale.

1 – Meu livro A Botija vendeu quase 40 mil exemplares.
VERDADE! Que maravilha! É isso mesmo. Publicado em 2006, A Botija já emplacou cerca de 38.000 exemplares. Sai pela Editora 34 (São Paulo) e é meu livro de maior sucesso. A falta de fé nos chamados “artistas locais” fez algumas pessoas assinalarem esta como mentira. Mas eu tenho os comprovantes da Editora, que recebo trimestralmente.

2 – Uma noite tomei uma Coca-Cola com Paulo Coelho enquanto explicava a ele a diferença entre individualidade e personalidade. 
VERDADE! Eu estava bebendo Coca-Cola e ele tomava uma cerveja. Foi em Campina Grande, em meados dos anos 1990, e o escritor estava lá para o Encontro da Nova Consciência, evento que ocorre em Campina durante o Carnaval desde 1991 até hoje. Nessa época, eu lia muito sobre espiritualidade e Paulo mostrou-se um conversador inteligente e atento. Conversamos também sobre muitas outras coisas, pois o Encontro durou uns quatro dias. A quem interessar possa, adoro Coca-Cola e não tomo bebida alcoólica de nenhum tipo, nem vinho, desde 1987.

3 – Aos 30 anos sentia muito orgulho do meu corpo escultural. 
MENTIRA! Não sei como meu corpo era, mas nunca me dei bem com minha forma física. Sempre me achei gorda, apesar de nessa época eu pesar 45 quilos para 1 metro e 50. Não gostava das minhas formas, me achava barriguda, malfeita, peito e bunda grande demais, coxas finas, tudo de ruim que você imaginar. Somente agora, já velhota e gorda de verdade, comecei a gostar do meu corpitcho, que é igualzinho, em termos de volumes e proporções, ao corpo de uma criança de seis meses... 

(O segredo para deixar esses testes interessantes é colocar verdades que parecem absurdas e mentiras que parecem perfeitamente normais. Quem adivinharia que eu, nos dias de hoje cheia de vaidade e auto-estima, não aceitasse meu próprio corpo? Pois é. Aos 30 não aceitava.)

4 – Na relação, não exijo e nem prometo fidelidade.
VERDADE! Como exigir algo que não consigo prometer? Desde que seu Fulano não faça na minha frente nem venha me contar o que fez, desde que seja discreto, desde que quando estiver comigo me trate bem e me mime, eu não quero nem saber o que ele faz quando não estamos juntos. Da mesma maneira eu me comporto com ele. Infelizmente, a maioria dos homens geralmente faz, e além de fazer, tem extrema necessidade de contar que fez. E não quer que a gente faça. 

5 – Nos anos 1970 tinha um bandido que me protegia e não deixava roubarem minha casa.
VERDADE! Em 1975 eu era concluinte do curso de Medicina e dava plantão no antigo Pronto Socorro do Hospital das Clínicas. Fazendo a visita médica, de manhã, notei um rapaz operado, com o curativo sujo e cheio de dores, gemendo. Descobri que era um cara perigoso, condenado várias vezes, que havia sido esfaqueado numa briga dentro da cela, conhecido da crônica policial da cidade, e que até as enfermeiras e médicos tinham medo de chegar perto dele. Aí eu fui, mediquei, troquei o curativo e pedi ao policial para trocar o braço da algema – ele estava algemado ao leito desde a noite anterior e sentia dor no braço. O rapaz, em forma de agradecimento, disse que na minha casa eu podia dormir de porta aberta que ninguém ia mexer comigo. E eu me senti segura até uns dois ou três anos depois, quando ele foi morto.

6 – Já fiquei com um cantor muito famoso que não posso revelar o nome. Ainda hoje temos carinho.
VERDADE! Essa é verdadíssima, mas não posso falar a respeito. Foi uma promessa a ele mesmo. Faz tempo, e ele não era tão famoso quanto é hoje. 

7 – Meu pai não queria que eu me casasse, mas que eu tivesse amantes.
VERDADE!  Papai era um cara genial. Ele dizia que “um homem na vida de uma mulher deve ser um acontecimento e não uma eternidade”. Dizia que eu devia namorar, e amar, e que esse negócio de casamento não tinha futuro. Tenho uma carta dele sobre isso. Pois é, Ana Morena. Papai era um homem absolutamente especial.

8 – Durante a adolescência acalentei o sonho de ser estilista de moda em Paris.
VERDADE! Lá pelos meus 16 anos, eu vivia com uma prancheta desenhando modelos, costurava minha própria roupa e sonhava com Paris. Ainda sou deslumbrada não pelo mundo da moda, mas especificamente pelo mundo da alta costura, das grandes maisons de costureiros famosos. Hoje isso está tudo no Netflix e no Youtube, e passo boa parte do meu tempo vendo documentários e séries sobre o tema.

9 – Fui casada quatro vezes.
VERDADE! Fui mesmo. Além dos casamentos, tive uns trocentos namoros longos e curtos e mais aventuras do que consigo me lembrar.

10 – Tenho vontade de me casar de novo.
VERDADE! Pois é. Tenho pensado constantemente em compartilhar minha vida com a de outra pessoa, pois meu último casamento acabou em 1985 e já estou quase uma vida solteira. É claro que não quero me casar de qualquer jeito nem com qualquer um, mas se eu encontrar alguém de quem eu goste e se ele passar no teste de seleção, é uma possibilidade real. Em 2016 tentei, e não deu certo – o candidato obteve alta pontuação nas questões objetivas, mas a redação deixou a desejar. Acho que essa tentativa reativou o meu gosto pela vida-a-dois, e realmente venho sentindo falta de ter uma pessoa a quem contar à noite o que aconteceu comigo durante o dia. O bom disso tudo é que existem hoje novas formas de casamento, prontas para serem experimentadas. Enfim, quem quiser se habilitar, as inscrições e o regulamento estão disponíveis inbox.  


Contatos: http://linktr.ee/ClotildeTavares | clotilde.sc.tavares@gmail.com