Ronaldo Sormani, que morreu na última sexta-feira, foi um cantor romântico natalense

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O céu da boca do dom das dunas e deusas

Vê-lo na esquina da Ângelo Varela exibindo seu vestuário talhado pela singular admiração das mulheres, era tudo que uma cidade precisava

30 de agosto de 2020

Carlos Gurgel | poeta

 

Dou-te um tanto do meu tempo temperado desse almíscar de tanta procura e um inesquecível almoço nessa beira de mar. Entre faróis e flertes, a música ao longe, acorda distâncias esquecidas. Era como se todo o litoral que nos banha, se esquecesse da redoma dos peixes cintilantes, e fosse procurar entre madrugadas, o buquê das enormes fotos.

Todas, absolutamente todas, tal qual inclassificável freguesia, resquícios da nua lua amada, noite a dentro, pela ponta da embarcação tão jovem e crédula.

Foi-se o tempo, por onde as velas, lunetas e proas, insistentemente procuradas, se escondessem como palmas de uma promessa, no entorno da enseada abandonada e feliz.

A cidade, por todo o dia, e pela noite, espalha incontáveis sabores. são como os amores sem vínculos, vindos da cozinha da vizinha, que morre de medo que sua freguesia de tantos e incontáveis pedidos de assados e cozidos, não mais desse conta, naquele tempo, dessa mesma cidade e o seu incalculável e lindo bistrô: o amor dos seus pares pelos seus bares e mares.

Uma profusão do amor contidamente provinciano passeava pela avenida ávida dos seus habitantes e dos inúmeros, extraordinários e indecentes segredos. Como se eles fossem o ícone de um estalo de uma moda que explodia entre os quarteirões de um bairro sem fronteiras e perdições.

Vivíamos calados e sem pressa. Como se o vento nos obrigasse a ficar em casa olhando para a lua como lembrança dos amores prateados e sem anéis. Tudo sem a ausência de um cais, tão inesquecível cais.

Céus, como tudo em segundos transfere o perfume das escondidas amizades, fruto de intermináveis audições no dial de uma emissora amorosa, em direção ao reduto dos anônimos habitantes de uma província imersa em comércio desconhecido e fugaz?

Sim, urgente que todos se vestissem de uma miscelânea vinícola, varonil e versátil; e fossem para as janelas das suas hospedarias e esperarem pela tertúlia de um intérprete audaz, com brilhantina por sobre seus cabelos irretocáveis ao longo das praias urbanas dessa cidade, e dos candelabros das residências recheadas de fabricos franceses, dessas ninfetas com pele de tecido exorbitantemente passional e boca de um folhetim solar, rico em clarões de exuberantes rotas de ritos.

Sormani, monumento de tanta galáxia, ventos de uma galeria infinda de refinados recantos. Os astros sonoros nem sempre lapidam seus triunfos românticos; muito mais do que os ponteiros de um relógio daquela avenida lunar, longe da leve luz do amor, transparecia possuir. O flerte das canções dos amores improváveis em impossível rapidez, contaminava o auditório, holofotes com a fragrância dos corpos suados de tantas carícias e incontidas promessas. Moças se davam ao prazer de, em profusão, demonstrarem com seus corpos, a infinita dança dos seus desejos e dos cromos fixados nas geladeiras das suas cozinhas, como se as refeições das residências dessas deusas das praias da cidade, em incontrolável transe, não se contentassem com as orgias das sementes de tantas mentes sedentas de liberdade, e do licor vindo do além mar como invólucro da régua desregrada de toda paixão revestida da mais ácida imagem, múltiplos sons, vôos, vozes, furor da beira de praia.

Ronaldo, por esse tempo, conquistava o incontido prazer de inúmeros troféus e triunfos. Vê-lo na esquina da Ângelo Varela exibindo seu vestuário talhado pela singular admiração das mulheres sem fugas e rugas, era exatamente tudo que uma cidade merecia. Como confirmação do amor do amor do amor do amor do amor do amor entre os seus e os que chegassem de fora. quando a respiração pára, semelhante a um instrumento único e sem palavras, é como se a pele da cidade indisfarçavelmente fosse sua varanda. o incontido transe de uma multidão desejando o tom da pulsação da letra nua, revestida por uma linguagem sonora de encontros corporais. alimentar essa paisagem para todo o sempre, era, o que, sem demora, todos que amassem o suor dessa celebração, perseguiam. Ronaldo Sormani, haverá um dia, que essa sua pessoa/cidade florescerá como tour raro e desejado. fruto, vulto, ícone romântico e tão nosso. ladrilho, azulejo impávido desse espaço geográfico, lâmina lupa, multiplicada por tanta incontida lascivia e legião.