Francisco Elói se dedica à arte ancestral do teatro de marionetes

Reportagens

O fabuloso mundo de Kiko e suas marionetes musicais

Em um ateliê na Cidade da Esperança, Francisco Elói, o Kiko, constrói  e manipula bonecos com maestria, fazendo-os cantar e tocar instrumentos.

23 de outubro de 2021

Itaércio Porpino | Especial para o Típico Local

A placa em que se lê “Garagem das Artes” não diz absolutamente nada, não dá a menor pista do que acontece daquele portão pra dentro, onde Francisco Canindé de Lima, ou Francisco Elói, seu nome artístico, ou ainda Kiko, como muitos o chamam, se dedica à arte ancestral do teatro de marionetes. É ali, na garagem da casa número 4 da rua Ibiara, na Cidade da Esperança, bairro da zona Oeste de Natal, que Francisco cria e constrói os bonecos que manipula com maestria, fazendo-os cantar, dançar e tocar instrumentos musicais – habilidade que desenvolveu sozinho, como foi com o desenho, a escultura e a caricatura.

Francisco com alguns de seus personagens encantadores: O Pianista, o Saxofonista e o Bêbado. Foto: Itaércio Porpino

Diante de algo novo e complexo, por envolver os segredos da mecânica dos movimentos dos bonecos, o artista vem dedicando muito tempo a esse trabalho. “Fiz uma longa pesquisa teórica em busca de informações. Li bastante e também vi vídeos, pra só depois tentar fazer a primeira marionete – o Pianista”, conta.

Sob o manejo de Francisco, o boneco de cabeleira e bigodão brancos hoje executa belas peças ao piano, vestindo um fraque clássico preto. Mas foi preciso construir pelo menos dez marionetes. Um ano e meio de insistência. Muitos testes e erros até o acerto. Cinco meses só para ajustar o peso do boneco e seis meses para fazer funcionar os circuitos das linhas.

       

O Raul Seixas em forma de marionete e o Saxofonista que encanta pelos movimentos complexos comandados por Kiko

São três anos de dedicação ao teatro de marionetes. Até 2020, como hobby, mas, a partir deste ano, Francisco Elói passou a encarar a “brincadeira” profissionalmente, como a caricatura e outros trabalhos artísticos que faz há mais tempo. No último domingo, 17 de outubro, se apresentou pela primeira vez, num evento do Dia das Crianças, em um condomínio. Levou todos os seus personagens – o Pianista, o Bêbado, o Violoncelista, o Saxofonista e Raul Seixas (única personalidade) –, além do palco para os bonecos se apresentar e seus instrumentos, iluminação e cenário. Tudo minuciosamente construído por ele.     

 “Eu precisava saber como funcionava em uma apresentação. Como seria a receptividade do público. E foi muito bom. As crianças e os adultos adoraram. Pra mim, foi ótimo porque pude ver o que fazer para melhorar algumas coisas”, diz o artista, agora muito mais empolgado para realizar algumas ideias. Uma delas é ensinar a arte de manipular bonecos a outras pessoas, com a intenção de criar um grupo teatral. Ele até já deu nome: Marionete Potiguar. Com seu talento artístico e um mundo a ser desbravado, tem tudo para ir longe.

 

Em Natal e, muito provavelmente, no Rio Grande do Norte todo, Francisco é o único marionetista. Ele não tem notícias de ninguém no estado que faça esse trabalho, e uma das razões é a dedicação que a arte exige, por ser muito difícil e não ter quem ensine. Hoje, mesmo com toda a experiência que adquiriu após anos de estudo e prática, leva em média um mês para finalizar um boneco, que envolve pesquisa, concepção, roteiro, criação e execução.

O boneco de cabeleira e bigodão brancos executa belas peças ao piano, vestindo um fraque clássico preto. Tudo criado pelo artistas autodidata

“O mais trabalhoso são os detalhes... Por exemplo, fazer o boneco abrir e fechar a boca, que foi algo que eu descobri assistindo vídeos de apresentações. Não foi tutorial. Essas coisas não vejo ninguém ensinar. Então foi observando mesmo. A pessoa que tá manipulando o boneco às vezes mostra sem querer como faz determinado movimento.”

Um autodidata curioso que sempre buscou diferenciais, Francisco inventou de fazer marionete porque começou a pesquisar maneiras de dar movimento às suas esculturas para festas. Foi assim que utilizou o motor de um ventilador para movimentar a cabeça da Bruxa da Branca de Neve. “No mercado tinha outros motores para movimentos específicos, mas muito caros. Então comecei a usar cordões e daqui a pouco eu estava fazendo marionetes sem saber que estava. Agora quero aperfeiçoar ainda mais, trabalhar outras expressões corporais e movimentos da face, como abrir e fechar os olhos. Já tenho até ideia de como”, diz, sabedor de que ainda pode evoluir muito nessa arte.

Atrás da placa “Garagem das Artes” continua o artista curioso tentando inventar e surpreender, num processo próprio de aprender e aplicar múltiplas habilidades, como desenvolver roteiro e fazer cenário e iluminação. Mas é coisa de pouco tempo para os personagens saírem da garagem e ganharem o mundo, dando sentido as suas vidas: divertir as pessoas.

SERVIÇO
Interessados em contratar o artista para apresentações podem falar com ele pelo número 84 98893 8616 (telefone e Wpp)