A dupla roqueira mais estourada da semidesértica Mossoró lançou este petardo em língua pátria
Colunas
Das cidades de Natal, Mossoró e Santa Cruz, os roqueiros mandam o recado em alto e bom som, indo do metal ao rock contemporâneo e experimental
20 de agosto de 2020
por Alexandre Alves
Inquieta como poucos, a juvenília potiguar sempre gostou do rock desde que ele chegou nestas plagas na década de 1950, causando furor na capital potiguar (o caso foi destaque nas manchetes dos jornais da época). Na década de 1960, um potiguar virou ídolo da jovem guarda (Leno) e na década de 1970 houve o caso isolado do grupo (então) hard psicodélico Impacto Cinco, lançando o que é hoje um dos discos cobiçados por colecionadores de vinil, o nunca relançado e obscuro “Lágrimas azuis” (1975). Da década de 1980 para cá, os jovens roqueiros se multiplicaram em suas bandas de garagem.
Hoje, alguns são mais renomados fora dos limites estaduais, como o Far From Alaska ou Plutão Já Foi Planeta – este uma versão soft rock –, além dos viajados Camarones. Atualmente, o rock “po(p)tiguar” (expressão da década de 1990 criada pelo ativista cultural paraibano Jesuino André) mantém ativa sua produção, apesar das limitações causadas pela pandemia. Impedidos de ensaiar e tocar, a maneira mais prática foi usar e abusar das tecnologias, finalizar gravações semi-completas ou mesmo criar uma nova formação e gravar à distância com ex-integrantes de bandas potiguares.
Alguém aí ainda acha que o rock morreu nesta esquina dos trópicos?
1. NEW FIGHT, “Labirinto mental” (Vídeo / Single), Direção: Paulo Medeiros
Diretamente da inusitada Santa Cruz (cerca de 123km456m da capital), o power trio enfezado vem soltando riffs e um grunge ainda mais sujo que as estradas poeirentas do interior potiguar. Começando mansa com dedilhados de guitarra, depois a canção segue carregando nas distorções, esta é a primeira canção do grupo em língua portuguesa, que lançou um EP em 2019 nomeado, todo em inglês. Com uma canção de título altamente adequado aos tempos pandêmicos, aumente o som que esse rock aqui está mais bem gravado do que em muitos estúdios de ponta na onipresente Natal.
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2. HELL LOTUS, “Mulungu” (Single/Vídeo), Direção: Danielle Freitas/Vitória Bessa
A dupla roqueira mais estourada da semidesértica Mossoró lançou este petardo em língua pátria – excetuando o verso final –, todo gravado no estúdio Mente Aberta na cidade de Santa Cruz e cujo clipe ficou estilo meio “road movie”, meio “making of”, altamente despojado e com a música falando primeiro. Riff circular explodindo nos alto-falantes, nada de refrão, Vitória Bessa sussurrando, cantando e gritando ao mesmo tempo enquanto Gilderlan Holanda senta a mão nos seus tambores. Com excepcional mixagem de Paulo Medeiros (o cabeça do grupo New Fight), a canção é trilha sonora para a crescente tensão da pandemia desde a linha inicial (Fogo sobe, sangue ferve). Que sonzeira da nossa versão local invertida dos White Stripes! Para escutar no volume 10.
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3. LUAN BATES, “Systematic” (Single virtual), Nightbird Records
Antes conhecido por seu trabalho mais voltado para o folk pop, o jovem agora ataca com sua faceta mais barulhenta, voltada para os caracteres do dito rock alternativo – seja lá o que este termo signifique! – que existe no planeta Terra desde a década de 1990 (mas antes se chamava indie rock na versão britânica ou college rock na versão ianque). Leia-se vocais melódicos – alguns gritos também – e guitarras barulhentas no famoso andamento 4 x 4 do rock ocidental. A faixa faz parte do futuro álbum do músico, a ser lançado até final do ano e intitulado “Nothing left to say”. No meio da letra no refrão, o cidadão é enfático: “Future is systematic” (O futuro é sistemático). Na canção, sombras do Dinosaur Jr. e do rock estadunidense atual de bandas como Nothing, mas em geral o alvo é o fã do rock barulhento.
LINK: https://luanbates.bandcamp.com/
4. AGONIZA, “O significado da carne” (EP virtual)
Produto claro dos atuais tempos pandêmicos, o grupo de metal na linha death/thrash se define como “projeto de quarentena concebido remotamente” (!). De seus quatro integrantes, dois deles moraram e tocaram em bandas em Natal (estão hoje em São Paulo e no Rio de Janeiro), um ainda mora na capital e outro reside em Brasília. Com letras em português baseadas num romance gótico do alemão Schiller (“O aparicionista”) e a cargo dos vocais guturais de Zé Misanthrope, as 05 faixas do EP do quarteto descambam para uma bem tramada cozinha dos experientes Cláudio Slayer (Expose Your Hate) e Victor Barbosa (ex-Terrorzone). As guitarras cavalgadas no controle das mãos de Nicolas Gomes (A Peste) mantém a tradição, trilha sonora destes tempos apocalípticos. Bem feito, mas sem novidades, no esquema acelera-e-desacelera típico do estilo (em “O teatro do absurdo”, as sombras do Sepultura são mais que visíveis), agradando aos aficionados.
5. MARDUB, “Dos Artistas dub” (single)
O menos roqueiro da leva, eis aqui mais um projeto encabeçado pelos intrépidos Walter Nazário, Pedras e Henrique Lopes (integrantes de bandas como Igapó de Almas, Esquizophanque e Ian The Kid), os experimentos sonoros aqui passam pelo uso constante do Dub, espécie de reggae com efeitos diversos, cujo pai é o britânico Lee Scratch Perry. Com longas passagens instrumentais (que os críticos também já apelidaram o estilo de “reggae progressivo”), os integrantes do Mardub soltaram este single com singelos 09 minutos de duração – prévia de um disco inteiro –, onde a guitarra sincopada do reggae jamaicano convive com variadas sampleagens, vozes ocasionais de algum diálogo, sons analógicos diversos e aquela linha de baixo sobrando nos fones de ouvido.
LINK: https://mardub.bandcamp.com/
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