Poeta e critico, Moacy Cirne é um dos nomes da poesia concreta potiguar. Foto: TN
É Típico!
“Um Panfleto para Godard” é reeditado pela Munganga Edições e terá lançamento dia 26 de março, no Seburubu
22 de março de 2022
Por Redação do TL
Em 1986, uma decisão do então presidente José Sarney proibiu a exibição no Brasil do filme "Je Vous Salue, Marie", de Jean-Luc Godard. O filme retratava a história de uma garota que engravida sem ter feito sexo, como aconteceu com Maria, mãe de Jesus. A censura provocou uma série de manifestações pelo país, e mesmo com uma ou outra liminar permitindo exibição temporária, o filme só foi liberado nos cinemas três anos depois. Para as bandas de cá, o poeta Moacy Cirne (1943-2014) resolveu responder à censura lançando “Um panfleto para Godard”, que coincidiu com as comemorações dos 25 anos do concretismo no RN. Mais de três décadas depois, a obra ganha uma reedição pela Munganga Edições. Em formato artesanal e tiragem limitadíssima segundo os editores, a obra será lançada dia 26 de março, sábado, a partir das 16h, no Seburubu.
“Um panfleto para Godard” é uma plaquete de poemas verbais e visuais produzidos naquele momento de efervescência.
“Nos poemas de Moacy, a crítica à censura é um mote utilizado para tecer críticas mais amplas ao contexto sócio-histórico que permitiu a existência dessa fratura na liberdade de expressão. Assim, também são alvo da revolta de Moacy Cirne a burguesia brasileira, que, embora detenha a hegemonia econômica, tem, para além do individualismo preconizado pelo capitalismo, concepções e pensamentos que estacionaram no tempo há alguns séculos atrás”, comentou Ayrton Alves Badriah, coeditor da Munganga Edições.
Em análise dos editores, a obra pode ser vista como uma crítica à ‘verdadeira elite do atraso’. “Tudo numa construção picaresca, tão cara ao estilo de escrita de Moacy, em que, frequentemente, o leitor se depara rindo do abismo humanitário em que se encontra”.
Moacy, em “Um panfleto para Godard”, não se reserva apenas às críticas, que seguem sendo atualíssimas; em seus poemas também é possível observar vários trechos que convidam o leitor a reaver a fé na esperança, que dizem que dias melhores, com esperança e luta, mais cedo ou mais tarde virão. Tudo isso dito de um modo docemente experimental, pois Moacy parece ter pego para si a missão de não deixar a mensagem de dias melhores cair no desgaste da banalidade, e é com este movimento que vêm golpes imagéticos inesperados, numa linguagem que busca incessantemente reinventar-se.
Moacy Cirne foi um poeta e artista visual, nascido em São José do Seridó, Rio Grande do Norte, em 1943. É considerado um dos especialistas brasileiros em histórias em quadrinhos e o poeta potiguar foi um dos fundadores, em 1967, de uma das neovanguardas brasileiras mais importantes do pós-guerra, o Poema-Processo, ao lado de Wlademir Dias-Pino, Álvaro de Sá, Nei Leandro de Castro e Pedro Bertolino, entre outros.
Além de “Um panfleto para Godard” (1986), sua obra poética, das mais interessantes entre os melhores poetas experimentais brasileiros, segundo Ricardo Domeneck na Revista Modo de Usar e Cia., é formada por livros como: “Objetos verbais” (1979), “Cinema Pax” (1983), “Docemente experimental” (1988), “Qualquer tudo” (1993), “Continua na próxima” (1994), “Rio Vermelho” (1998), “Poemas inaugurais” (2007) e “Seridó Seridós” (2013).
A editora da obra tem como proposta editorial disponibilizar aos leitores autores e livros pouco conhecidos. O carro-chefe é a publicação de poesia, principalmente de autores em domínio público, achados através do garimpo empreendido pelos seus editores. Algumas obras publicadas são traduções de autores publicados pela primeira vez em língua portuguesa, como Luís Omar Cáceres, Agustín Espinosa e José Luis Hidalgo.
Serviço
Lançamento da reedição de “Um panfleto para Godard” de Moacy Cirne, pela Munganga Edições. Dia 26, a partir das 16h. Seburubu, Av. Deodoro da Fonseca, 307, bairro Petrópolis. 36 páginas. R$: 20,00 https://mungangaedicoes.blogspot.com/
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