Raul Seixas foi produtor musical da CBS por três anos, incentivado pelo amigo Jerry Adriani
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O cantor e compositor Raul Seixas, considerado um dos ícones mais importantes do rock brasileiro, também teve seus momentos “cafona”
12 de abril de 2022
Por Costa Júnior*
O cantor e compositor Raul Seixas, considerado um dos ícones mais importantes do rock brasileiro e atualmente cultuado pelos seus milhares de fãs em tributos, também teve seus momentos “cafona”. Antes de tornar-se um roqueiro rebelde, foi produtor musical da CBS por três anos. Quem muito contribuiu para sua estreia como produtor foi Jerry Adriani. Tudo começou quando Jerry foi fazer um show, na metade dos anos 60, com Chico Anysio e Nara Leão, em Salvador. A banda carioca que o acompanharia Rio não pode comparecer. Então, o empresário baiano sugeriu um conjunto musical local, chamado Raul e Seus Panteras, para acompanhá-lo.
A banda tocou muito bem, o show foi tão perfeito que chamou a atenção de Nara Leão, que assistia à apresentação. Depois, ela comentou com Jerry Adriani. “Vocês tocaram muito bem porque já se conheciam”. Ele respondeu: “Nunca, estou vendo-os pela primeira vez”. Daí surgiu uma grande amizade entre eles, ao ponto de Jerry Raul e Seus Panteras para uma excursão no Nordeste, como banda de apoio. Raul foi em lua-de-mel com sua primeira esposa. Desta amizade com Jerry, compôs a música “Tudo Que é Bom Dura Pouco”.
Depois, os componentes da banda foram para o Rio de Janeiro, onde lançaram o primeiro álbum, em dezembro de 1967 pela extinta gravadora Odeon, chamado Raulzito e Seus Panteras. O disco foi um fracasso de vendas e Raul, então profundamente abalado, decidiu voltar para sua terra natal. Passou um ano sem se envolver com música, mas seu destino mudou quando mais uma vez o amigo Jerry Adriani entrou na sua vida. A CBS estava precisando de um produtor, e ele convenceu o gerente-geral da gravadora, Evandro Ribeiro, a convidar Raul a produzir seus discos. Raulzito, como era conhecido na época, voltou ao Rio de Janeiro, desta vez como produtor musical, onde produziu três álbuns de Jerry e, junto com Mauro Motta, compôs “Doce, Doce Amor”, um dos grandes sucessos da Jovem Guarda.
Para o primeiro disco de Odair José, lançado em 1970, Raulzito compôs “Tudo Acabado”. Em 1972, no disco Casa e Comida, da potiguar de Assu, Núbia Lafayette, compôs “Jamais Estive Tão Segura de Mim Mesma”, canção regravada em 1999 pela cantora maranhense Rita Ribeiro. A cantora Diana no início dos anos 1970, época em que namorava o cantor Odair José, e por sugestão dele, procurou Raul para gravar um disco. Ele não só produziu, em 1972, o seu primeiro trabalho, como compôs em parceria com Mauro Motta, “Você Tem Que Aceitar”, “Estou Completamente Apaixonada”, “Hoje Sonhei Com Você” e o grande sucesso da cantora “Ainda Queima A Esperança”. No álbum, Raulzito também fez a versão de “Take My Hand For A While/ Pegue As Minhas Mãos”.
Suas produções musicais começaram a crescer em sua carreira. Entre novembro de 1970 a janeiro de 1971, ele participou na produção, nos arranjos, composições, tocando violão e fazendo vocais em Vida e Obra de Johnny McCartney disco do cantor e compositor natalense Leno, gravado nos Estúdios CBS. Em parceria com Leno, Raul – que já assinava como Raul Seixas – compôs “Sr. Imposto de Renda”, “Sentado no Arco-Íris”, “Johhny McCartney”, “Bis” e “Convite para Ângela”, que na verdade é a primeira versão de “Sapato 36”, gravada no disco O Dia que a Terra Parou, de 1977. O álbum de Leno foi censurado e passou 25 anos guardado, sendo lançado somente em 1995, quando as fitas originais foram encontradas nos arquivos da gravadora Sony, sucessora da CBS.
No ano de 1972, no disco Olhar Perdido, da dupla Leno e Lilian, se destaca a música composta por Raulzito, “Objeto Voador”, primeira versão de “S.O.S.” do disco Gita, 1974. Em 2010, Leno lançou o álbum Canções com Raulzito, um tributo do cantor potiguar com músicas compostas em parceira com Raul Seixas. Algumas são inéditas, como "Uma Pedra no seu Caminho", "O Mundo dá Muitas Voltas” e “Quatro Paredes”. “Sentado no Arco Iris”, foi gravada pela banda Impacto Cinco, no seu segundo disco, Lágrimas Azuis, de 1975.
Ainda na sua trajetória de produtor da gravadora CBS, Raul Seixas produziu o primeiro compacto de Sergio Sampaio, que alcançou o sucesso com "Coco Verde", logo regravada por Dóris Monteiro. Em 1973, o cantor capixaba lançou o seu primeiro LP, “Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua", pela gravadora Philips, também produzido por Raul. A música homônima do disco lhe rendeu aparição em programas de televisão e boa execução nas rádios. Também fez sucesso a canção "Cala a boca, Zebedeu", composta pelo seu pai, Raul Gonçalves Sampaio, compositor e maestro. Na última faixa do disco, Sérgio canta uma canção curta, com o título “Meu Nome é Raulzito Seixas”, e os versos dizem “Meu nome é Raulzito Seixas/ eu vim da Bahia/ e vim modificar isso aqui/ Toco Samba e Rock, morena/ Balada e Baioque”.
Raul Seixas, mais conhecido na época de produtor musical como Raulzito, compôs para Renato e Seus Blue Caps “Obrigado Pela Atenção” e, em parceria com Pedro Paulo, “Playboy”. Para Leno e Lilian, fez o sucesso “Deus É Quem Sabe” e, para Alípio Martins, “Tenho Muito o Que Fazer. Com Sandra Syomara, compôs “Se Ainda Existe Amor” interpretada pelo cantor Balthazar, que até hoje ainda é cantada por outros cantores e bandas de forró. Na parceria com Mauro Motta, compôs sucessos como “Foi Você”, para Márcio Greyk; “Agora Eu Faço o Que Me Convém”, para José Roberto e “Problemas” sucesso com Vanusa, entre muitas outras composições. São mais de 80 músicas que levam seu nome, enquanto atuou como produtor.
Em 1972, convencido por Sérgio Sampaio, decidiu participar do Festival Internacional da Canção (FIC). Compõe duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing", defendida pelo próprio Raul, e também “Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo", defendida por Lena Rios & Os Lobos. Ambas chegaram à final, obtendo sucesso de crítica e de público. Rapidamente, Raul foi contratado pela gravadora Philips. Na época, ele também se interessou por um artigo sobre extraterrestres, publicado na revista A Pomba. A partir daí ele mantém o seu primeiro contato com o escritor Paulo Coelho, que mais tarde se tornaria seu parceiro musical. No ano de 1973, Raul Seixas conseguiu o seu grande sucesso, com a música Ouro de Tolo, do álbum Krig-ha, Bandolo!
*Formado na UFRN, Costa Júnior atuou como repórter na imprensa potiguar e na acriana, além de ter sido editor por várias décadas do jornal Zona Sul, que circulava em Ponta Negra. É pesquisador cultural e amante de Raul Seixas.
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