Produtores e elenco de "No Ritmo do Coração", vencedor na categoria Melhor Filme. Foto: Getty Images
Reportagens
Em meio a uma festa estranha e furos no roteiro, Oscar teve prêmio a ator surdo, terceira mulher com Melhor direção e tapa na cara ao vivo
28 de março de 2022
Por Cefas Carvalho
Festa estranha com gente esquisita. Em um Oscar marcado por polêmicas sobre limitação de transmissão pela tv de categorias e necessidade de inclusão e diversidade, o evento mais importante da indústria cinematográfica, realizado neste domingo, em Los Angeles, nos EUA, teve de tudo: merecida e emocionante premiação de ator surdo, jovem estrela pop vencendo prêmio de melhor canção, terceira mulher ganhando Oscar de direção em cem anos e tapa na cara no palco ao vivo e a cores.
A vitória como melhor filme foi de "Coda - no ritmo do coração", sobre uma família de pessoas com PCD (deficiência auditiva/surdez), que superou o tenso e complexo "O ataque dos cães", que era o favorito. Uma retomada do Oscar para filmes com mensagens edificantes, após dois anos premiando filmes pessimistas ("Nomadland" no ano passado e "Parasita" em 2020). "O ataque dos cães" era o meu preferido e já havia vencido Golden Globe e Bafta.
O filme com mais estatuetas foi "Duna" (venceu seis, todas em categorias técnicas), mas a noite foi marcada pelo tapa que Will Smith - vencedor do prêmio de melhor ator por "King Richard" - deu no ator e comediante Chris Rock no momento mais tenso da cerimônia do Oscar. Rock havia feito uma piada com o cabelo de Jada Pinkett Smith, esposa do ator, que é portadora de condição autoimune que provoca queda de cabelo. Após ter o nome anunciado como vencedor e subir ao palco para receber o Oscar, Will chorou e pediu desculpas à academia (mas não a Chris Rock) dizendo que "fazemos bobagens por amor".
A premiação marcou história ao dar o Oscar de direção a Jane Campion, de "O ataque dos cães", que havia vencido o prêmio de roteiro original em 1993 por "O piano" e é apenas a terceira mulher a vencer na categoria em quase cem anos. Sinal dos tempos, no ano passado outra mulher havia vendido, "Chloé Zhao", por "Nomadland".
Jessica Chastain, de "Os Olhos de Tammy Faye", ganhou o prêmio de melhor atriz, superando Nicole Kidman, Olivia Colman e Kristen Stewart, que tinham chances e ainda Penelope Cruz. Na categoria de coadjuvantes, os favoritíssimos Troy Kutsur (ator surdo de "Coda - no ritmo do coração") e Adriana de Bose ("West side story - Amor, sublime amor") venceram.
Na categoria dos roteiros, Kenneth Brannagh venceu por "Belfast", belo filme, embora o favorito (e meu preferido) fosse Paul Thomas Anderson pelo mais criativo "Licorice pizza". Anderson merece um Oscar há uns vinte anos, como diretor de "Boogie nights", "Magnolia" e "Sangue negro". Na faixa de roteiro adaptado, a favorita Jane Campion perdeu para "Coda - no ritmo do coração". O favorito "Drive my car", do Japão, venceu como filme internacional.
Foi um Oscar estranho, com muita coisa previsível e um roteiro cheio de furos e bem questionável. Filmaços como "Macbeth" e "A filha perdida" saíram de mãos abanando. Se nos anos anteriores, a academia vinha sendo elogiado por se abrir para a modernidade e diversidade (vitória de um filme coreano há dois anos e de uma diretora chinesa em 2021) este ano a premiação pareceu "engessada". E que se registre que a AppleTV+ é o primeiro streaming a ter um original ganhador de Melhor Filme. A esperar o Oscar 2023.
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