Paulo Souto integrou o General Junkie e fundou a banda DuSouto. Foto Marcelo Barroso

É Típico!

Paulo Souto, um maloqueiro gente boa no high society da música

Com referências de várias partes do mundo, suingue brasileiro e identidade local, Paulo Souto uniu gerações em torno de sua música criativa

12 de junho de 2023

Por Ramon Ribeiro

Paulo Souto marcou a juventude de uma turma grande em Natal. Junto de Gabriel Souto e Gustavo Lamartine, compondo a banda Dusouto, embalou algumas das melhores noites da cidade, especialmente de 2005 a 2015, com aquele som vibrante, novo, com referências que vinham de várias partes do mundo, que trazia muito do suingue brasileiro, que espelhava a nossa identidade local. Me tornei fã imediatamente.

De toda a produção cultural autoral daquela época, tenho a impressão de serem o que melhor soava Natal. Aquela coisa praiera, galada, malokeira. Vibrei quando os caras se apresentaram no Programa do Jô. Mesmo sentimento quando joguei Fifa 2006 e ouvi "iê Mãe Jah".

Hoje a gente vê uma turma batendo ponto no samba da Cidade Alta todas as quintas-feiras, mas houve uma época que o grande lance da semana era curtir Dusouto em alguma festa na sexta, sábado ou domingo. Os caras tocavam direto. E eu costumava estar lá. Era animado, dançante, chapante.

Teve quem criticasse. Gente que passou a ver a banda como algo malhado. Mas, porra!, a banda furando a bolha da Ribeira, indo além dos festivais, se firmando na agenda cultural, sendo amada por uma galera disposta a pagar ingresso. Tinham mais é que surfar no sucesso, tocar todo fim de semana mesmo. Aquilo era uma baita conquista, sobretudo em uma terra onde conquistas desse tipo são difíceis na cultura.

Gostava de ir aos shows pela música, pela turma que aparecia nas festas, pelo que esses três caras faziam nos palcos, as tiradas engraçadas entre uma música e outra, os improvisos, os mashups, as novas versões das próprias músicas (tinha show mais puxado para o samba, outros na linha do jazz, forró, semi-acústico, haja versatilidade!).

Não acompanhei Paulo Souto no General Junkie. Fui apenas em shows revivals. Quem viveu aquela época tem a banda como lendária. Vi também Paulo em atividade pelo Sangue Blues. Adorava! E a primeira fase da Orquestra Greiosa, quando o repertório era de versões carnavalescas modernas para composições de bandas potiguares. Achei uma sacada massa!

Enquanto jornalista, entrevistei Paulo Souto apenas uma vez. Parecia estar sempre de bem com a vida. Eu admirava o jeito meio malokeiro dele, a maneira peculiar de falar, as gírias. Achava um barato. Era alguém que tinha a música em primeiro plano, apesar de todos os riscos (financeiros) que uma decisão dessas pode acarretar. Sabemos que viver da própria arte, autoral, não é fácil no Brasil, menos ainda no Rio Grande do Norte.

Quando soube do falecimento de Paulo Souto, na noite de sábado para o domingo, fui tomado por um abatimento imediato. Mas logo vieram as lembranças de tudo que vivi de especial por causa desse cara. Era madrugada, estava numa piscina de plástico bebendo com amigos que compartilharam dos mesmo momentos especiais proporcionados por Paulo e sua banda. Colocamos as músicas do Dusouto para tocar e seguimos bebendo em sua homenagem, lembrando de shows e cantando. Cantando canções que se tornaram hinos da minha geração. 

"...Ah esse samba
Ele é feito a fumaça
Ele dança e balança
Quando se espalha no ar".