As discussões sobre a velhice precisam ser transversais para não cair no lugar comum

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PERGUNTAS NECESSÁRIAS

Não existe isso de uma pessoa ser mais idosa do que outra. Se alguém tem 62 anos, e outra tem 89 anos, ambas são idosas e têm os mesmos direitos

09 de dezembro de 2022

Clotilde Tavares

Quero falar sobre a velhice.

Mas antes, vamos abrir um parêntese para definir uns termos.

O que é o idoso? Idoso é aquele que tem 60 anos e +. Simples assim. A pessoa ou é idosa ou não é. E não existe isso de uma pessoa ser mais idosa do que outra. Se alguém tem 62 anos, e outra tem 89 anos, ambas são idosas e têm os mesmos direitos, embora uma seja mais velha do que outra.

Já o termo “terceira idade” geralmente é aplicado para aquele idoso com dinheiro, o aposentado dinâmico, que não trabalha mais, que tem tempo. Mas cuidado! Essa categoria “terceira idade” foi criada pelo mercado e suas necessidades, é heterogênea e mascara diferentes realidades sociais. A terceira idade, a rigor, faz parte de “o novo modo de envelhecer”, de uma indústria do envelhecimento, que abre novos mercados para essas pessoas e surge com os aposentados de classe média.

Já o velho que é pobre continua sendo velho – e pobre. Só é promovido a idoso no papel e a terceira idade é vedada a quem não tem dinheiro.

Eu ainda estou tentando entender essas categorias. Estou atenta a essas questões, e elas precisam ser transversais a qualquer discussão sobre a velhice, e tem sido para mim um problema falar sobre a velhice sem cair no lugar comum, na mesmice, naquilo que todo mundo fala, que todo mundo diz, que é tema das revistas, dos blogs, dos sites, dos programas de TV.

Normalmente, são dois tipos de abordagem. A primeira é aquela que trata daqueles que eu chamo de “neo-velhos”, ou os “jovens-velhos”, pessoas na faixa dos 50. Na maioria são mulheres, e se discutem questões como sexo, estética, menopausa, filhos ficando adultos e saindo de casa.

A segunda abordagem é aquela que aborda temas do tipo “10 coisas que devemos fazer na 3ª. idade” - ou que não devemos. Se alimente bem, faça check-up anualmente, se exercite, tenha um hobby, seja útil, não reclame, não seja um peso, não olhe para o passado.

Mas, e as pessoas da minha idade? Onde estão sendo discutidos, na sociedade, as questões da nossa faixa? Dos 70 e +? É óbvio que aos 75 anos uma discussão sobre menopausa não atrai mais minha atenção.

Onde conversar sobre coisas como a solidão, a morte e seus terrores, a perda da autonomia, a perda do poder, a infantilização do velho, os diminutivos usados para descrevê-lo ou para dirigir-se a ele – o famigerado “a senhora por favor bote o bracinho aqui...” – o olhar lançado sobre o velho, carregado de condescendência, ou então aquele olhar curioso, de quem está vendo uma ave exótica num zoológico.

Onde aprender a lidar com o etarismo, que é o preconceito de idade, geralmente contra quem é velho ou contra quem é muito jovem, e que é estrutural na nossa sociedade, como o machismo e o racismo?

O que fazer com tudo isso? É uma pergunta necessária, sobre essas questões ainda em aberto, principalmente para mim, que daqui a 7 dias completo meus 75 anos.


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