Mariano Tavares lança single Alumbramento. Foto: Ian Rassari

É Típico!

Pop Potiguar: Porque a música não pode parar

Potiguares se inquietam em seus lares para uma nova rodada de sons, provando que, de silêncio, a terra de Luís da Câmara Cascudo não padece

31 de julho de 2020

por Alexandre Alves | Coluna Nave Música

Munidos da mais plena imaginação enquanto a pandemia espera sua tão aguardada cura, os músicos potiguares não param de produzir. De artistas experientes aos novatos, do rock instrumental à MPB e ao pop de tendência mundial, os norte-rio-grandenses se inquietam em seus lares para uma nova rodada de sons, provando que, de silêncio, a terra de Luís da Câmara Cascudo não padece.

Mesmo com os escassos recursos à disposição – os estúdios fechados, a vida ao ar livre como um risco –, a produção “home-made” (leia-se “caseira”, em bom português) não é desculpa para se fazer música de qualquer jeito. Nas dificuldades estes artistas se superam, fazem seus vídeos com ares contemporâneos, produzem suas canções procurando timbres e harmonias variadas, uma delas chegando a bater recorde de exibição na internet entre os potiguares residentes no estado. Seguem as dicas sobre o pop potiguar.

LIZIA, “Sunflowers” (Vídeo), Direção: Lizia Santos

Aos 17 anos, compor, produzir, mixar e dirigir seu próprio vídeo (atitude indie até o osso!) em casa durante a pandemia parece um ato inimaginável, mas não para esta “enfant terrible”, que ainda não fez sua estreia ao vivo. Descaradamente pop e bem produzida – parte do EP virtual “Cen$ored” –, leves timbres eletrônicos, piano e órgão discretos marcam uma canção cantada em inglês que não faria mal em algum disco da Taylor Swift ou da Lana Del Rey. No refrão de gente grande, a jovem manda o recado: “You put a seed / sunflowers grow over me/ then you pointed me a gun/ my sunflowers are away from the sun” (Você pôs uma semente / girassóis crescem sobre mim/ então você me apontou uma arma/ meus girassóis ficaram distantes do sol). Olho nela, como assim comprovam os mais de 6.000 acessos ao vídeo no Youtube. Pop potiguar internacional.

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MARIANO TAVARES, “Alumbramento” (Vídeo), Direção: Mariano Tavares

Já com 03 cds lançados – o mais recente é “Otobiografia” (2020) –, o já experiente cantor e compositor vira diretor de seu próprio vídeoclipe (mais indie é impossível!) e solta mais um exemplar de sua música intimista, aqui contando até com quarteto de cordas e suaves beats eletrônicos. No começo da canção, vozes sampleadas e o piano puxam para um lado mais Nick Cave antes da entrada da voz de Tavares, que aqui bebe nas fontes da MPB canônica (mas sem concessões ao refrão fácil), algo como Itamar Assumpção cantando um lado B do Portishead após uma noite de audição de discos clássicos da Nana Caymmi. Terminando a composição, os versos são ironicamente emblemáticos: “E as canções de amor e paz são todas tuas”, tudo realçando o clima da bela fotografia em preto e branco, tão dramática quanto este mundo em crise. Altamente indicado para ouvidos já experientes.

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GALACTIC GULAG, “The unearthing” (single)

A banda natalense se autoproclama como um “experimento sonoro músico-instrumental” e agora lança o primeiro single após o álbum “To the stars by hard ways” (2017). Mantendo a mesma base da trilha sonora anterior e desta vez com a composição passando dos 12 minutos (!), o quarteto apresenta riffs mastodônticos se revezando com trechos mais lentos – será que alguém já usou o termo psycho stoner com estes galácticos? – e passagens com baterias tribais entre múltiplos solos com timbres margeando o prog rock e o hard rock. Feito para os humanos pacientes que gostam de música longa (e boa).

LINK: https://galacticgulag.bandcamp.com

 

SAMPLE HATE, “EP” (04 faixas, Seno Records)

Lançado ainda no comecinho da pandemia, os tarimbados e altamente ativos Dante Augusto (ex-Calistoga e atual Seigan) e Artur Porpino (Fukai) se juntam em levadas praieiras com resquícios de reggae, soul music e leves eletronices. Por vezes, eles erguem canções ora com timbres à la John Frusciante (“Wake alive”), ora fazendo um som mais contemporâneo, como na quebradiça “Spiral dynamics”. Porém, tudo em versão soft, sem a explosão tão comum ao rock do punk para cá. Na descansada “Same old situation” – favor não confundir com uma canção homônima do Sublime – há um tom de leveza quase jamaicana que, embora tenha menos de três minutos, periga mandar você apertar o replay.

LINK: https://www.deezer.com/br/artist/90018392

 

POTATO HEAD, “Inside of me” (single)

Estreia do psicodelismo anos 2000 produzido nos fornos do clima semidesértico de Mossoró. Guitarras simulando cítaras, melodia arrastada e um vocal feminino seguram a audição, quase hipnotizando o ouvinte. Nos acordes flutuantes, os dedilhados das estrofes se contrapõem com uma leve distorção no refrão, mas sem explodir como de costume na fórmula já batida. Para escutar nas BRs fugindo em direção a alguma ilha sem vírus cruzando os ares. Melhor esperar um disco inteiro para ver se a banda segura a onda. Mantendo o nível, compre dois e entregue um deles para um amigo, pois depois desta pandemia quem sobreviver com consciência merece os melhores presentes.

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