Ateliê de Jotó na Vigário Bartolomeu recebe artistas e amantes da arte. Foto: Fred Luna

É Típico!

Por trás da foto: O ateliê vivo de Jotó na Cidade Alta

Jornalista Fred Luna registra uma tarde no ateliê Demolan, do artista e moldurista Jotó

02 de fevereiro de 2021

O artista plástico e moldurista Ângelo Demolan, mais conhecido como Jotó, é um velho habitante da Cidade Alta. Seu colorido Ateliê Demolan, na Vigário Bartolomeu, 563, está sempre de portas abertas para um bom papo, recebendo artistas, amantes da arte e colecionadores que vão ao local atrás de uma moldura diferenciada.

Jotó é pernambucano, mas mora em Natal há mais de 40 anos. Além de referência na fabricação de molduras arrojadas, o artista tem um trabalho autoral e o colorido de seu espaço atrai visitantes.

A procura por uma moldura para a gravura que ganhou de Dorian Gray Caldas levou Fred Luna, jornalista e doutor em arquitetura e urbanismo, ao ateliê no Centro .

“Só tomei conhecimento de Jotó por conta de amigos que emolduraram quadros com ele e ficaram bem bonitos, diferentes, autorais. Daí, no meu mestrado, eu fui entrevistar seu Dorian (Gray) e, ao chegar na casa dele, encontrei-o rabiscando envolto em pilhas de livros. Sentei em frente a sua mesa, e ele disse: "Pegue aqui pra você". Deu-me uma gravura de presente. Guardei esta gravura, habitei várias casas, morei fora do País e nunca expus a obra."

Tempo vai, tempo vem, Luna reuniu vários futuros quadros que precisavam de moldura e foi lá em Jotó: "Já era a segunda vez. na primeira, não sabia que só abria após o meio-dia", Jotó justificou: "é que durmo tarde trabalhando ou saio para tomar uma cerveja, sabe como é" 

“O lugar é uma viagem! Não aquela premeditada, gurmê, coisa milimétrica pendurada nas paredes, no teto, no chão. É uma experiência. Das muitas cabeças de veado pintadas de cores mis, todo tipo de objeto tem ali. É um museu de  Bacurau, vivo, uma vontade de ficar ali só olhando, entendendo e desentendendo de tudo. Tudo é bonito. até a hélice do ventilador virou história. A barba branca de Jotó, seu jeito sorridente, afável, parecia que já o conhecia. É um oásis aquele lugar”, detalhou Luna.  “’Volte mais, venha para conversar quando quiser, viu’"? 

Jotó nasceu no Recife há 68 anos. Aprendeu a fabricar molduras na base da tentativa e erro, sozinho, para enquadrar os próprios trabalhos. Sua arte é Naïf, mas a molduras são um objeto de arte “de vanguarda”, disse, em uma entrevista anos atrás.