Burrata é o carro-chefe da queijaria Maanaim, de Caicó. Foto: Instagram

É Típico!

Pequena queijeira de Caicó produz burrata, mozzarella e maturado de sabor único

Queijeiro Ildefonso produz queijos diferenciados do tipo italiano em seu sítio Barra da Espingarda, em Caicó

03 de agosto de 2020

Cinthia Lopes | Jornalista

Na história da agricultura familiar do Seridó, a lida com o gado e a habilidade da manipulação da matéria-prima sempre foram um capital básico para manter o homem no campo. Henry Kostner, o comerciante e explorador inglês que viveu no Nordeste no século XIX, já descrevia em seus relatos de viagens a excelência dos queijos frescos do sertão produzidos por vaqueiros-queijeiros do Seridó, que séculos atrás detinham técnicas do processamento do leite e noções de melhoramento dos queijos que perdiam o frescor.

 A vida do vaqueiro-queijeiro caicoense Ildefonso é parecida com a de muitos sertanejos que precisaram deixar sua terra fugindo da seca para viver em São Paulo. Após anos trabalhando na siderúrgica, foi trabalhar numa fazenda de búfala e a partir dali se deu o reencontro com o sonho antigo: voltar à terra natal para fazer “um queijo especial que estava na memória”.

Burrata, Mozzarella de nozinho e bolinha são produtos produzidos por queijeira de Caicó

A primeira mozzarella ele não esquece: “Quando trabalhei numa fazenda em São Paulo conheci esse queijo muito interessante que o dono da fazenda nos presenteava, feito da mistura de leite de búfala com vaca. Era adocicado e agradável”.  Ao retornar percebeu que não encontrava nada parecido e teve a ideia de criar seu próprio queijo baseado naquele sabor. “Passei 16 anos tentando até encontrar o sabor que eu queria”, contou.

Assim nasceu a Maanaim, uma marca do Rio Grande do Norte que vem se destacando pela produção de laticínios artesanais frescos do tipo italiano. São burratas e mozzarellas nos formatos bolinha, nozinho, trança e manta, todos à base de leite de vaca. Além desses, já produz dois tipos de queijo maturado que já estão ganhando fama.

Toda a família trabalha na produção e tudo é feito no Sítio Barra da Espingarda,  localizado no distrito de mesmo nome, em Caicó. A filha, que mora em Goiás, cuida das redes sociais. “O queijo artesanal requer muito trabalho e dedicação. Não é fácil, mas quero provar ser possível viver no campo”.

 A fé no ofício foi relevante na criação da marca. Na história bíblica, Maanaim era o lugar onde Jacó teve uma visão dos anjos de Deus. “Eu gosto de ler a bíblia e nas histórias do povo Hebreu há o relato de um patriarca Jacó que teve essa visão ao se deitar numa nova terra.”

Maanaim produz um maturado autoral com "terroir". Foto: Instagram

A clientela mais qualificada tem ajudado a repercutir os produtos no boca a boca.  É o caso da cozinheira e pesquisadora Adriana Lucena. Principal entusiasta dos queijos produzidos no Rio Grande do Norte, Adriana conheceu Ildefonso em março passado, levada por outro queijeiro, Marinho Neto da Fazenda Caju. “O primeiro queijo eu provei lá na casa dele em Caicó e já me impressionou! Com certeza um queijo autoral, seguindo alguma inspiração, mas revelando técnica apurada e terroir bem definido, o que torna aquele queijo único”, descreveu Lucena.

“Depois me enviou um outro maturado de 60 dias, de casca lavada. Técnica difícil e pouco usada no Brasil. Esse queijo foi um dos mais extraordinários que já provei”, elogia a chef potiguar.

Adriana explica que os queijos de casca lavada (como referência os franceses) tem como principal característica o cheiro muito forte. “O queijo de Ildefonso tem cheiro amanteigado, massa macia (sem ser mole) e notas de pão assado. Um espetáculo que fará grande sucesso na volta dos concursos de queijos”, avaliou.

A marca Maanaim ainda não é certificada por que faz um tipo de queijo que não se enquadra na atual Lei Nivardo Mello, criada em 2018 para legalizar e proteger a tradição dos queijos artesanais de coalho e de manteiga produzidos por pequenos produtores rurais. 

Assim como outros queijeiros pelo Brasil, Ildefonso aguarda o ‘Selo Arte'.

Em Natal, os produtos da Maanaim são comercializados por Sandra Lucena, que durante a pandemia foi levada a trocar a área de comunicação pela venda de produtos artesanais. Sandra começou a vender os pestos e os tomates confitados famosos da prima de Caicó, e foi por intermédio dela que conheceu a burrata da Maanaim.  As encomendas são feitas pela rede social e a entrega pode ser combinada, como retirada ou texa do entregador.

Vale lembrar que atualmente a região do Seridó concentra o maior número de queijeiras artesanais do estado. De acordo com o Sebrae são 314 no total. Desde a regulamentação da Lei Nivardo Mello os  produtores rurais estão se adequando ao modelo de queijeira artesanal, que é melhor do que a anterior de padronização industrial. 

Ildefonso disse que o apoio dos amigos clientes o motivou a continuar. “São amigos e consumidores, pessoas compromissadas com aqueles que vivem no campo. Graças a Deus isso é um movimento crescente no nosso país. Quero mostrar que é possível viver aqui”, disse.

Para Adriana Lucena, "é só questão de vontade e condições financeiras dos queijeiros se legalizarem. Já para os que fazem queijos inovação, é aguardar o Selo Arte ou alguma regulamentação do Governo do RN para reconhecer os novos queijos”.

 

Contatos pelo Intagram: @mussarelaartesanalmaanaim

Tel.: 84 99969-1328