Entrada da Rampa pelo Canto do Mangue, em 1979. Foto: João Maurício de Miranda/ Natal Foto-Gráfico
Reportagens
Após muitas tentativas, inclusive no Bosque dos Namorados e na Vila Olímpica do ABC, Natal ganhou o Cine Rampa, em outubro de 1983
22 de outubro de 2020
Por Ramon Ribeiro | Especial para o Típico Local
Natal quase teve um cinema drive-in no Bosque dos Namorados. Olha que doido! Não dá nem para imaginar em que área ficaria o telão gigante, muito menos os carros. A ideia do empreendimento partiu do próprio Governo do Estado, por meio da Emproturn, que lançou uma licitação em 1983. O projeto não vingou.
O desejo de ter um cinema para se ir de carro em Natal vinha desde 1980. É o que mostra uma nota que saiu à época no Diário de Natal. O projeto da Vila Olímpica do ABC (feito pelo por Marconi Grevy, o arquiteto da Catedral Metropolitana de Natal) previa uma área para instalação de um cinema drive-in. Esse projeto não foi pra frente. Outra iniciativa que também não deu certo foi a do empresário José Carlos Alencar, de Fortaleza, que previa um empreendimento para até 100 carros.
Das tentativas de trazer um cine drive-in para Natall congitou-se até abrir uma área no Bosque dos Namorados . Fonte: Arquivo do Diário de Natal
Mas voltando para 1983. Foi nesse ano que a capital potiguar ganhou seu primeiro cinema pra se ir de carro. A inauguração se deu poucos meses depois da licitação frustrada do Governo do Estado. O empreendimento ficava no pátio interno da Rampa, em Santos Reis, às margens do Rio Potengi. É curioso isso, porque a Rampa é um espaço icônico na cidade, faz parte da história da aviação mundial, recebeu os primeiros pilotos que cruzaram o Atlântico, foi importante entreposto de correspondências e, nos anos 40, funcionou como base americana durante os conflitos da Segunda Guerra - a famosa foto do encontro de Getúlio Vargas com Roosevelt foi feita lá.
O cinema drive-in integrava o complexo do restaurante New Rampa, na Rampa. A iniciativa foi do empresário Ronaldo Lopes. Ele já administrava o Clube do Boliche, na Praia do Meio, e assumiu o restaurante em julho de 83, arrendado do Chicão, o Chico Miguel, empresário que fez sucesso com a Toca do Chicão, no Aeroclube.
O arquiteto Marconi Grevy e o sonho do drive-in na Vila Olímpica do ABC. E o interesse de Ronaldo Lopes em transformar a Rampa em área de lazer. Fonte: DN
É legal lembrar do restaurante da Rampa. Teve vários donos. Nos anos 50 o local era muito bem frequentado, era tido como um dos mais sofisticados de Natal, tanto que os eventos mais importantes da cidade costumavam acontecer lá. Até o lendário encontro de Newton Navarro bêbado com o escritor John dos Passos, que rendeu texto no livro do americano sobre sua viagem pelo Brasil, se deu no local em 1962.
Alto-falantes e "sarro" no carro
Mas ao assumir o restaurante a proposta do Ronaldo Lopes era tornar o espaço mais popular. Por isso já assumiu o negócio falando em piscina para crianças, lanchas pra curtir o Potengi e o cinema drive-in. Uma curiosidade é que diferente do modelo tradicional, no cinema da Rampa o som não saía pelo sistema de rádio dos carros, e sim por alto-falantes.
Notícias sobre a inauguração do espaço, datada de 26 de outubro de 1983. À esquerda, nota na coluna de Luís Fausto na Tribuna do Norte.
Pesquisando nos jornais da época não foi possível encontrar fotos. Mas segundo algumas fontes ouvidas, o cinema era frequentado mais por jovens interessados em aproveitar o escurinho pra “sarrar” no carro do que por cinéfilos. Normal pra quem naquela época não tinha grana pra ir no Motel Tahiti, o mais famoso da cidade.
No local aconteciam sessões para público de classificação livre e sessões noturnas voltadas para a turma que podia ver filmes “Censura 18 anos”. O Cine Rampa inaugurou em 31 de outubro daquele ano, ou seja, daqui alguns dias fará 37 anos daquele experimento. O empreendimento contava com um telão, área para carros e serviço de lanchonete, na época o empresário e seu irmão Risomar Lopes já tinham um negócio de hot-dog móvel.
O cinema drive-in exibia desde comédias adolescentes a filmes do cinema brasileiro e mundial como “Engraçadinha”, com Lucélia Santos ou "O Amante de Lady Chaterley", com SIlvia Krlstel.
O cinema drive-in da Rampa foi o primeiro e único do tipo em Natal. Teve vida curta. E com o encerramento das atividades, ainda na década de 80, a Rampa caiu num longo período de subutilização. Em 1997 ainda chegou a receber um show de Gilberto Gil, e no início dos anos 2000 passou a abrigar uma exposição museológica da Fundação Rampa sobre a Aviação e a Segunda Guerra.
O viés museológico, aliás, será o foco do espaço quando as obras do Complexo Cultural da Rampa finalmente forem concluídas - algo que vem se arrastando desde 2013. Responsável pelas obras, a Secretaria de Estado da Infraestrutura (SIN/RN) estima que em dezembro o trabalho deve estar terminado.
Rampa ainda aguarda finalização do complexo cultural voltado para história da aviação e Segunda Guerra no RN. Foto: TN
Passados quase 40 anos da experiência do cinema drive-in da Rampa, uma nova iniciativa trouxe de volta à Natal a oportunidade de se ver filmes dentro do carro - única maneira de unir pessoas com segurança em tempos de coronavírus. Trata-se do Cine Drive-in Natal, projeto que está acontecendo nos sábados de outubro no estacionamento do Arena das Dunas. A ideia é das produtoras Haylene Dantas (HD Produções) e Keila Sena (Casa de Produção). A programação é composta de filmes para toda a família, incluindo aí curtas de realizados potiguares. Os ingressos são gratuitos.
Edição:: Cinthia Lopes
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