O corpo é elemento importante de seu cinema de Aronofsky, mas a obesidade não monopoliza a trama

Agenda Cultural

Resenha: É difícil conversar com quem não assistiu 'A Baleia'

A Baleia não é um filme que não nos leva a nada. Ao contrário, é um verdadeiro convite ao debate

01 de março de 2023

Por Ramon Ribeiro | Colaboração para o Típico Local

Passei dias com A Baleia na cabeça. Tem tanta coisa ali. É até difícil conversar com quem não assistiu ao filme, porque inevitavelmente vamos entregar momentos importantes. Corre-se esse risco.

Mas o que andei pensando foi sobre as acusações que o filme recebeu do ativismo de combate à gordofobia. Se para contar a história do protagonista, por exemplo, seria realmente necessário enfatizar seu corpo gordo.

Quem acompanha a filmografia do diretor Aronofsky vai lembrar de O Lutador e Cisne Negro. O corpo é elemento importante de seu cinema. Não está à toa na trama. E nesse ponto concordo demais com o que Isabela Boscov disse. “O Aronofsky primeiro busca nos confrontar com a realidade física do personagem, para depois podermos olhar o que está além dela”.

Outro ponto de questionamento é a ambiguidade do título. Acredito que muito do filme reside na dinâmica de construção e desconstrução de expectativas. A obesidade, por exemplo, não monopoliza a trama - como alguns comentários por aí nos levam a crer. A Baleia é sobre obesidade tanto quanto sobre homossexualidade, religião, amor, culpa, busca por salvação, luto.

O filme está longe de ser sutil. É impactante, causa desconforto, pode dar gatilhos (por motivos que vão além da questão da obesidade). Tem tristeza, mágoa, rancor, tem também esperança e beleza. Aronofsky consegue opor em nós diferentes sentimentos. É doido!

Me pergunto sobre o que esperam da arte certos ativistas. Que seja dócil e reconfortante, ou que nos faça pensar? Porque para fazer pensar é necessário que sejamos provocados.

E quanto a esse aspecto, Rodrigo Salem escreveu algo que compactuo. “Filmes não deveriam ser encarados como ferramentas educacionais absolutas”. E “isso diz muito mais sobre nossa falha como educadores do que sobre a ficção que tem a intenção de nos fazer questionar o mundo real”.

A Baleia não é um filme que não nos leva a nada. Ao contrário, é um verdadeiro convite ao debate.


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