Árvore que danificava a fachada foi retirada pelos engenheiros. Foto Evaldo Gomes

É Típico!

Restauração do prédio A Samaritana é sonho coletivo

Arquiteta responsável pelo projeto de restauração busca nas redes sociais informações sobre história do prédio, principalmente a área externa

15 de julho de 2020

Cinthia Lopes

O edifício da antiga loja A Samaritana é um dos imóveis centenários mais emblemáticos do sítio histórico da Ribeira. O prédio, localizado na R. Doutor Barata, foi inaugurado em 1916 para ser a loja de tecidos do então principal bairro comercial da capital, no tempo em que Natal possuía pouco mais de 20 mil habitantes. Décadas se passaram e o lugar entrou em decadência e o prédio em desuso. Sem as melhorias necessárias, virou endereço de risco pela Defesa Civil. Sua estrutura desafiou a engenharia, ficando de pé apenas a fachada de dois andares sustentada pelo emaranhado de galhos de uma árvore. Ironia é que a mesma estrutura que a sustentava, agora era a responsável pelo perigo iminente de desabamento. 

Quando o edifício Arpege localizado na Rua Chile ruiu há pouco mais de um mês, o “coração” da Samaritana já não estava nas estatísticas dos imóveis com risco de desabar. Isso por que já tinham sido feitos reparos de sustentação pela equipe de engenharia contratada para acompanhar o restauro do imóvel. Em entrevista ao TÍPICO LOCAL, a arquiteta e projetista Ilanna Paula explicou as primeiras intervenções e o processo de recuperação do imóvel que tem o acompanhamento local do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico.

 

Obras começam a ser feitas para preservar a estrutura frontal. foto: Evaldo Gomes

Ilanna é a projetista e responsável pelas decisões arquitetônicas e ela mesma tem usado as redes sociais para montar um dossiê com o máximo de informações sobre prédio, fotográficas e descritivas que detalhem algo mais de seu estilo à época, principalmente seu interior. “Por se tratar de um projeto em uma edificação tombada e considerada de destaque, o zelo pelas decisões de projeto estão sendo muito bem embasadas. É como fazer uma colcha de retalhos”, comparou sobre a comoção nas redes sociais em torno dessa edificação que muitos consideram icônica. “Muitos tentam ajudar como podem, com as poucas lembranças que tem”.

A arquiteta postou no Facebook e em grupos que publicam fotos de época (como o Fatos e Fotos antigas de Natal) pesquisou em livros, no acervo do IPHAN e no Arquivo Público Estadual, e lamenta que justamente a coleção do jornal A República, no período em que loja foi inaugurada, se estragou devido o armazenamento incorreto. “O levantamento histórico tem sido o mais desgastante, pois as dificuldades em conseguir informações em órgãos oficiais é difícil e boa parte do levantamento histórico fica baseado apenas na história oral, dificultando muito a confirmação de datas”, comentou.

Segundo ela, no momento estão sendo feitas obras para evitar que a estrutura, que ainda está preservada, seja danificada. Por isso foi retirada a árvore que estava danificando a fachada. “O projeto em si já está pronto e estamos apenas concluindo a revisão e os estudos que dão respaldos as decisões arquitetônicas. Queremos nos aprofundar ainda mais as pesquisas históricas, a fim de comprovar tudo que já foi levantado”, contou.

Galhos e entulhos foram retirados e pequenos reparos começam a ser feitos no prédio. Foto: Evaldo Gomes

O belo sobrado pertence ao empresário Roberto Serquiz, diretor da Água Mineral Santa Maria. Quando reinaugurado terá um espaço pronto para locação e outro para uso da empresa, provavelmente um museu. Uma reinterpretação do lugar com bem histórico e sua importância para a cidade.

Quais as principais dificuldades de elaborar o projeto para a reforma da Samaritana?

São muitas, um projeto de patrimônio é por si só um projeto complexo, onde o projetista tem que dominar vários aspectos que já são comuns a qualquer projeto, como conforto ambiental, aspectos de segurança, acessibilidades, diversas normatizações. Além disso, os aspectos relacionados ao patrimônio histórico de um modo geral, como pesquisa histórica e mapeamento dos danos, além da metodologia de intervenção na própria edificação. Especificamente aqui em nossa cidade, que tem pouca memória, o levantamento histórico tem sido o mais desgastante.

O IPHAN tem acompanhado?

Ao contrário do que muitos acham, e por muitas vezes Julgam o IPHAN, o órgão apesar dos poucos recursos é muito atuante. Se nosso Sítio Histórico ainda persiste em estar de pé, muito disso se deve a ele. Em todos os projetos que desenvolvi de patrimônio, o IPHAN tem sido um grande parceiro, nos apoiando no que é possível. Obviamente que o órgão tem suas limitações e por ser um órgão subordinado ao governo federal, como todo órgão público, possui sua burocracia, mas eu diria que dos órgãos que fazem parte dos licenciamentos é o mais célere. Ao contrário do que muitos pensam também, o IPHAN não detém todo o acervo para pesquisas históricas, o pouco que eles têm é disponibilizado para consultas sem grandes problemas. Já outras instituições muito pouco valorizadas, mas de grande importância para conservação da memória da nossa cidade, como o arquivo público enfrenta grandes dificuldades, muitas vezes em instalações inadequadas que prejudicam a conservação do arquivo. O acervo da República foi danificada justamente no período em que A Samaritana foi construída e inaugurada. Sendo assim, não consegui registros oficiais sobre isso. O IPHAN tem acompanhado sim, e o projeto que está em sua fase final, será dada entrada para avaliação e aprovação do órgão. Quais

Quais são as etapas da obra?

No momento estão sendo feitas obras para evitar que a estrutura, que ainda está preservada, seja danificada. Como a retirada da árvore que estava danificando a fachada. O projeto em si já está pronto e no momento estamos apenas concluindo a revisão e os estudos que dão respaldos as decisões arquitetônicas. Estamos tentando aprofundar ainda mais as pesquisas históricas, afim de comprovar tudo que já foi levantado. A próxima etapa é a submissão do projeto ao IPHAN, que deve acontecer em breve. Após aprovação dos órgãos competentes, a ideia é iniciar a obra. Que pode ser feita em etapas, tudo vai depender de condições favoráveis.

No mês de junho caiu uma parte do Arpege e a defesa civil chegou a informar em uma reportagem que existem outros prédios nessa situação. Como está a estrutura do prédio da Samaritana

Antes mesmo de parte do Arpege ruir A Samaritana já estava sendo acompanhada por uma equipe multidisciplinar com um engenheiro e um advogado e já estávamos buscando por mão de obra especializadas capaz de realizar serviços, como a poda das árvores que nasceram nas fachadas e prejudicavam sua estrutura. Foram mais de dois meses até conseguirmos um excelente profissional para realizar esse serviço tão delicado. As intervenções estão sendo no sentindo de garantir a estabilidade da estrutura e reduzir os riscos ao bem e a população.

Como está a busca por imagens, fatos e datas sobre o prédio?

As buscas estão sendo bem difíceis, mas muitos tem colaborado. A comoção por essa edificação que é icônica é bem grande e devido a isso muitos tentam ajudar como podem, com as poucas lembranças que tem. Tudo isso vai se juntando ao pouco que conseguimos levantar através dos meios oficiais, para enfim concluir essa colcha de retalhos. Ainda gostaria de conseguir fotos antigas da parte interna da edificação ou que destacassem mais detalhes da fachada. Sigo procurando, é bem provável que essas imagens surjam depois de muito tempo.

Quem quiser colaborar com imagens do prédio A Samaritana, basta enviar para

ilannapaula@hotmail.com