Natal de 1930 é cenário da história sobre o fato histórico conhecido como Intentona Comunista

Reportagens

Revolta militar em Natal de 1935 é pano de fundo para romance de Carlos Peixoto

"Lendas da Revolução" conta a história do soldado Manoel Gregório e sua participação na instalação do governo popular, que durou 72 horas

05 de março de 2021

As revoluções não cancelam o lírico que existe nos corações humanos. Em cena do livro ‘Memórias do Cárcere’, Graciliano Ramos dá notícias da Rádio Liberdade, transmissões coletivas que entretinham às noites no Pavilhão dos Primários, e relembra Beatriz Bandeira, voz doce e sussurrada, cantando a paródia revolucionária para “O orvalho vem caindo” de Noel Rosa: “As granadas vão caindo/ Incendiando meu quartel/ E os soldados resistindo/ São valentes a granel...” Beatriz foi poeta, escritora, militante dos direitos humanos, filiada ao PCB.

No romance “Lendas da Revolução”, novo livro do escritor e jornalista Carlos Peixoto, outras mulheres - Maria Auxiliadora, dona Teresa, Branca, dona Dalva e Dudalinda – também mantém vivo o lirismo que a revolução não cancela. “Lendas da Revolução” já está à venda na Cooperativa Cultural da UFRN, a livraria do Campus como é mais conhecida. O autor fará um lançamento oficial dia 31, às 19h30, em formato live no YouTube da Cooperativa. Também podem ser pedidos através do whatsapp +55 84 9864-1991. A arrecadação obtida com as vendas será revertida 100% em prol da manutenção da Cooperativa Cultural da UFRN, como forma de ajudar a instituição atravessar a crise econômica gerada pela pandemia.

“É um romance curto ou novela para quem gosta de narrativas nas quais se misturam história & ficção. O cenário da trama é a cidade do Natal e a revolta militar/comunista de novembro de 1935, quando um Governo Popular Revolucionário chegou a ser instalado por 72 horas na capital potiguar”, comentou o autor. O núcleo principal da trama é a experiência pessoal do soldado Manoel Gregório, praça do 21° Batalhão de Caçadores, durante os quatro dias da “Revolução”  (intentona na historiografia oficial). O personagem é inspirado em um Manoel Gregório real, vizinho da casa dos pais do autor nas Quintas.

“Naquele tempo – lembra Peixoto – os vizinhos se frequentavam, trocavam ideias, conversavam. Eu me lembro do seu Manoel, durante esses serões de cadeiras nas calçadas, contando para uma roda de crianças e adultos as aventuras dele antes, durante e depois da Revolução de 35”. Partindo dessas reminiscências, Peixoto  construiu uma narrativa romanceada, um relato que envolve o leitor não só com as informações históricas sobre a revolta militar, também nos laços de família, camaradagem na tropa, dilemas e amores vivenciados por personagens reais e fictícios arrastados, voluntária ou involuntariamente, para o conflito.

Ilustração do jornalista Alexis Peixoto para o livro "Lendas da Revolução"

O livro começou a ser escrito em janeiro de 2019, em São Paulo, mas só concluído em setembro do ano passado, quando ele já estava de volta e no isolamento social imposto pela pandemia do Covid 19. Carlos Peixoto ressaltou que a crise sanitária com o vírus não aparece na trama nem foi a motivação para o livro ser escrito, mas “faz um paralelo entre as duas situações”. “Revoluções, crises econômicas agudas e pandemias são contextos em que as pessoas não têm controle total sobre os fatos. Elas são colocadas diante de situações limites e as decisões pessoais tendem a ser mais passionais, baseadas em extremos como as paixões e o medo”. Uma das epigrafes escolhidas por ele parece resumir bem essa ideia. Trata-se de uma citação do pensador e escritor mexicano. Octávio Paz, para quem “o homem não está na história; é a história”

Dividido em quatro partes, uma para cada dia da Revolução – ocorrida entre os dias 23 e 26 de novembro – e mais uma com o período entre os anos de 1936 e 1940, Lendas da Revolução tem capa e capítulos ilustrados por Alexis Peixoto. A edição, através da Lei Aldir Blanc, foi do Selo Cultural Caravela.

Este é o terceiro livro publicado do jornalista Carlos Peixoto (os dois anteriores são “História de Parnamirim” e “Desejo de ser inútil”, este último com poemas no estilo hai-kai).