Músicos no Festival Internacional de Jazz, de Peter Dakowski, realizado no Teatro Alberto Maranhão

É Típico!

Ribeira dos anos 90, um marco espaço-temporal da música local

De repente alguns personagens daquela Ribeira deram as caras ao mesmo tempo recentemente: Será um alinhamento improvável de astros?

07 de dezembro de 2020

por Marcello Uchoa Wanderley

O cultuado David Byrne no seu apanhado de reflexões sobre Como Funciona a Música (2014, no Brasil) chama muita atenção sobre como o contexto influencia em qualquer processo criativo, especialmente na música. Há um tipo específico de música que se desenvolveu no contexto das salas de ópera, bem como há outro tipo cuja história está intrinsecamente ligada a espaços abertos e ao pulso rítmico da multidão e de mesma maneira há uma música que se desenvolveu em inferninhos, pequenos galpões e em meio ao cheiro impregnado de cigarro.

Certamente a história da música no Rio Grande do Norte é bem anterior ao início desse contexto de música de espaços fechados e boêmios, mas é relativamente fácil identificar na Ribeira dos anos 90 um marco espaço-temporal da música local apresentada nesses lugares. O que foi construído ali é pedra fundamental da música potiguar atual, gerando os festivais Mada e DoSol, mesmo que o bairro hoje esteja meio em baixa.

Nas últimas semanas, porém, alguns dos mesmos personagens daquela Ribeira deram as caras ao mesmo tempo em um verdadeiro alinhamento improvável de astros. Entre idas e vindas, gente que ficou no rolé e vai viver disso até o fim dos dias, outros que viajaram o mundo e voltaram, na mesma quinzena tivemos: o show do Alphorria no Fest DoSol Online, cujo repertório misturou alguns dos clássicos do primeiro disco e também foi um dos primeiros registros ao vivo do EP “Quilombola” lançado em janeiro deste ano; depois de muito tempo, disco novo de Pedro Mendes, “Escute Aqui”, lançado no final de novembro e que fez parte do repertório dele no mesmo Fest DoSol Online; e por fim a estreia solo de Paulo Souto, do DuSouto, ex-General Junkie e General Lee, em “50”, álbum comemorativo aos seus 50 anos.

Cada artista com sua especificidade e universo próprio influenciou e influencia qualquer um mais atento à música potiguar. E, assim como a Ribeira dos anos 90, aparecem praticamente num mesmo contexto de espaço-tempo entre lançamentos e registros ao vivo: os shows em formato de live e plataformas de streaming. E o mais interessante é o fato de que essa turma toda, mesmo com mais tempo de estrada, não ficou totalmente presa ao passado.Todos, cada um à sua maneira, procuraram suporte junto a parceiros mais novos, alguns que ainda eram espectadores em tempos de Ribeira, para conseguirem se reinventar, não cair na mesmice e proporem atuais.

*Marcello Uchoa Wanderley é entusiasta da música e cultura potiguar. Mestrando em estudos urbanos pela UFRN, o autor é neto do crítico de cinema Berilo Wanderley.

A imagem reúne músicos das bandas General, Sangueblues e Mad Dogs, que participaram da edição do Festival Internacional de Jazz, de Peter Dakowski, realizado no Teatro Alberto Maranhão