Cine Drive-In Natal experimenta formato de cinema no carro, como no passado; Foto: Cinthia Lopes

Agenda Cultural

Depois das lives, entra o formato drive-in

Três grandes eventos já sinalizam para o formato: O Cine Drive-In Natal, além do Fest Bossa & Jazz na Pipa e Um Presente de Natal, em dezembro

10 de outubro de 2020

Cinthia Lopes

Dentro do carro, com o rádio ligado e isolamento social como recomendam os protocolos para conter o avanço do coronavírus. Por ser o único formato até agora liberado pelos decretos para públicos acima de mil pessoas, o drive-in voltou com força total em várias cidades brasileiras.

Em Natal o primeiro grande experimento neste sentido será no Cine Drive-In Natal, que começa neste sábado (10), no Arena das Dunas. Com acesso gratuito, o projeto esgotou os ingressos para as sessões de hoje, mas ainda terá edições nos dias 17, 24 e 31 de outubro. Neste sábado, um lote surpresa de 50 ingressos foi disponibilizado no site do festival no Sympla.

Para quem conseguiu ingressos, os filmes de hoje são “O Menino e o mundo” (17h30), filme de Alê Abreu indicado ao Oscar em 2016, na categoria animação. O filme narra a jornada de Cuca, um menino morador de uma pequena aldeia, que na ausência do pai parte em busca de trabalho na desconhecida capital e descobre uma realidade dura. Na sequência, o sucesso de bilheteria “Minha Mãe É Uma Peça 2” (20h), episódio em que Dona Hermínia (vivida por Paulo Gustavo) já está famosa depois de ganhar o seu próprio programa de TV. Por fim será a primeira sessão Goiamum Audiovisual (23h) com os curtas “Em Reforma”, “O voo do pássaro multicor”, “Madrigal: Um conto de imagens por palavras”, “Meu tempo é quando?”, “Dias Felizes” e “Leningrado Linha 41”.  A transmissão será na faixa da 105,5 FM.

Drive-in Show: Outubro na Pipa

Outro evento que confirmou a realização neste formato foi o Fest Bossa & Jaazz. A edição da Pipa está confirmada para os dias 30 e 31 de outubro, tendo palco montado no local e som transmitido por frequência de rádio para os veículos. O detalhe extra será a transmissão pelas redes sociais do Fest Bossa, permitindo que as pessoas possam acompanhar pelos aplicativos ou smart tvs. Estão confirmados os shows de Ana Cañas (SP), Sandra de Sá (RJ), Funkeria (PB), Mad Dogs (RN), Khrystal (RN), Liz Rosa (RN), Samara Alves (RN), Dudu Galvão (RN) e ainda um DJ convidado.

Para Juçara Figueiredo, não serão permitidos ao evento presencial pedestres, bicicletas, motocicletas, veículos conversíveis ou com pessoas na parte externa, tendo que manter a distância de 2m entre as vagas. “Aqui na Pipa a gente tem que desbravar, não é como Natal que alugamos uma Arena ou shopping que tem as vagas já demarcadas, está sendo feito a planta baixa e o cálculo pela engenheira responsável. Na área locada tem árvores que teremos que descontar as vagas, pois temos que respeitar o meio ambiente”, comentou.

Teatro drive-in em dezembro

Um terceiro evento que está em fase de produção será tradicional espetáculo “Um Presente de Natal”, musical natalino com a marca de Diana Fontes Produções. O projeto deve aportar na Arena das Dunas em dezembro, no formato drive-in para carros e uma novidade para o público não motorizado, que a produção irá divulgar em breve.

Nostalgia potiguar: Os primeiros drive-ins da cidade

O clima nostálgico dos drive-ins no imaginário das pessoas se deve em parte aos filmes americanos de época. Mas o modelo nem sempre foi exclusivo do cinema. Em Natal, por exemplo, o mais famoso deles foi o Hippie Drive-In, que não era cinema e sim uma casa de shows com serviço de restaurante nos carros. O lugar operou entre 1969 a 1974 em Ponta Negra onde hoje é o Sea Way, e pertencia a Luís Carlos Abbott Galvão. O restauranteur Temístocles Amador Silva, dono do Temis Clube, era um jovem funcionário do Hippie Drive-In na época, e detalha o ineditismo da empreitada de seu José Carlos, que se inspirou em um restaurante semelhante do México.

Ele conta que o Hippie Drive-In tinha capacidade para 1800 pessoas, possuia um zoológico para visitas de dia e um complexo de restaurante, palco e estacionamento no qual o público assistia, a céu aberto e luz neon, aos shows de bandas como The Jetsons, o cantor Altemar Dutra, Trio Irakitan, Luiz Américio.

Discrição era o lema do lugar, afinal de contas o conservadorismo da época inibia escapadas às claras. “Os drive-ins eram lugares para namorar, para fugir das vistas do público e para curtir a vida, por isso até os garçons tinham de ser discretos ”, conta Temístocles. O lugar foi um marco no entretenimento natalense por implementar várias modas e produtos, como o milk shake, o scargot e o gin tônica importado.

“Os drive-ins eram lugares para namorar, para fugir das vistas do público, por isso até os garçons tinham de ser discretos ”, conta Temístocles.

Como todo experimento, o Hippie tinha seus gargalos, um deles era o calote. “O local era frequentado por pessoas de várias idades, tinham os cadetes da Força Aérea com suas namoradas, pessoas que vinham em dupla de casais, mas a maioria era gente em busca de privacidade total. Assim, na hora da lotação alguns carros saíam sem pagar a conta. O ‘xêxo’ era um dos maiores problemas”, lembra Temístocles.

Mas a experiência de drive-in como cinema em Natal só foi acontecer no início dos anos 80, quando os irmãos empresários Ronaldo Lopes e Risomar inaugurou um cinema Drive-In no pátio do histórico prédio da Rampa em 1983. No local aconteciam sessões para público de classificação livre e sessões noturnas voltadas para a turma que podia ver filmes “Censura 18 anos”. O Cine Rampa inaugurou exatamente em outubro daquele ano, ou seja, há exatos 37 anos daquele experimento, surge o Cine Drive-In Natal.O empreendimento contava com um telão, área para carros e serviço de lanchonete, na época os empresários já tinham um negócio de hot-dog móvel — uma espécie de pré-foodtruck.

O  Drive'In montado na Rampa exibiu desde comédias adolescentes a filmes do cinema brasileiro e mundial como “Engraçadinha”, com Lucélia Santos ou "O Amante de Lady Chaterley", com SIlvia Krlstel. No verão de 84, o local também foi parada obrigatória das festas de blocos de carnaval. Durou pelo menos três anos até ser desativado. 

Ainda não se sabe até quando irá durar, mas o fato é que os formatos de drive-in provaram que, na crise, sempre se pode aprender com as experiências do paasado.