Se todos fossem Doutores

Abraão Gustavo | escritor

 Fico pensando que, se todos quisessem ser Doutor, nossos cabelos sempre ficariam grandes pela falta de barbeiro e salões de beleza. Imagine mulheres, com suas unhas grandes e malfeitas, desfilando pelas ruas, com seus cabelos armados, sem toques artísticos dos profissionais da estética. Fico imaginando que, se todos quisessem ser Doutor, aquele pão quentinho e o misto-quente com suco de laranja não existiriam. E o café? Com leite, sem leite, expresso, aromatizado, com cuscuz e tapioca pela manhã, quantos bons papos fazemos com cafés, ao decorrer da vida. Seriam extintos. Fico pensando que, se todos quisessem ser Doutores, andaríamos na rua sobre pirâmides de lixos até o céu, ratos, baratas, moscas se proliferando por toda parte, já pensou quantos tipos de doenças e variantes teríamos? Fico pensando que, se todos quisessem ser Doutores,

Pelé não seria rei, aquele gol de placa em 1961 nunca iria acontecer. Fico pensando que, se todos fossem Doutores, não teríamos circo e algodão doce, palhaços, rodas-gigantes, maçãs do amor, parquinhos e suas armas de chumbinho e seus carrinhos de bate-bate jamais fariam parte da nossa imaginação.

Penso que se todos fossem Doutores não haveria quem fizesse o abastecimento de água em nossa casa, energia elétrica, instalação de Internet. E o carro da pamonha seria o carro dos Doutores?

Fico pensando se não houvesse engenheiros, médicos, doutores, professores, jogadores, pastores, telespectadores, leitores, advogados, jornalistas, escritores, padeiros, açougueiros, garçons, enfermeiros, vendedores ambulantes, carteiros, coveiros, donos de boteco e outros que fazem nossa sociedade funcionar.  E se todos fossem Doutores?