Solto na progressividade da vida

Por Isaac Ribeiro

Uma das marcas da personalidade de Paulo era o inconformismo, seja estético, artístico, comportamental. Havia uma inquietude nele que gerava muitos frutos. Também não havia espaço para nostalgia. Era sempre um projeto novo em andamento, uma ideia fervilhando, a expectativa por um experimento. E essa força instigava e impulsionava quem estivesse ao seu lado.

A primeira lembrança que tenho de Paulo foi numa festa de Comunicação Social, no Setor de Aulas V, da UFRN, onde eu cursava Jornalismo. Ele tocava baixo numa banda chamada Humanos. Depois, quando eu já estava me apresentando com o Florbela Espanca, conheci Gustavo Lamartine e todos do General Lee. Ele já era baixista da banda.

Eu, Ricardo e Gilmar, do Florbela, nos unimos a Gustavo e Paulo, do General, pra um tributo ao The Doors, “Celebração do Lagarto”, que aconteceu na boate Flash em 1991. Passamos a ensaiar com frequência no quintal da casa de Odaires, em Petrópolis, mãe de Gil, ex-vocalista do General. Depois da apresentação do tributo, continuamos nos encontrando, cada vez mais, pra conversar, ler poesia, escutar música, tocar e cantar.

Já na fase do General Junkie, Paulo foi apresentando várias novas composições. Os temas country da época do repentebilly foram dando lugar a experiências com coco de embolada, rap e rock – a tal inquietude…

Quando fundou o DuSouto, apresentou à cidade uma mistura inteligente e deliciosa de dub, ragga, drum’n’bass, samba e nordestinidades, com letras de uma crônica sagaz, habitadas por personagens espertos e paisagens sonoras inusitadas. 

Paulo Souto é um dos principais criadores de uma linguagem potiguar contemporânea, dos anos 1990 até os dias atuais, interferindo de forma sublime na música feita em Natal, influenciando amigos e artistas de seu tempo.

Antes de Txio Paulinho, ele é Pauleza, Paulírio, Paulo Alexandre, Paulo Souto, Paulo… Amigo fiel e prestativo. Sempre me dava conselhos, apontava o que julgava incorreto e ajudava a apontar caminhos – a progressividade das coisas, como costumava dizer. Tenho um monte de histórias legais vividas com ele, passagens engraçadas, outras nem tanto, experiências de vida mesmo. Vida vivida com intensidade! Viva Paulo!