Bolinhos de sabores variados, como Camarão e bacalhau, são especialidades da casa

Colunas

Tapiocaria da Vó: Bar e restaurante como resistência cultural na Vila de Ponta Negra 

Com dez anos de atividades, espaço múltiplo mistura gastronomia, cultura e resgate histórico e se confunde com a própria história da Vila

23 de outubro de 2023

Cefas Carvalho

Completando dez anos na atual formação, a Tapiocaria da Vó é um espaço múltiplo que mistura gastronomia, cultura e resgate histórico e que se confunde com a própria história da Vila de Ponta Negra, espaço que resiste às transformações sociais e econômicas que atingem o restante do bairro de Ponta Negra para o bem e para o mal.

A história do local teve início com a criação do restaurante Rango de Mãe, em 1988, por alguém cuja história se confunde com a da Vila: Joka Lima nascido e criado na Vila, "bisneto de Bacu, neto de Pancu, filho de Cafurico e Maria Foguete", como se define ao falar de sua família de pescadores e rendeiras. "Eu mesmo trabalhei na pesca desde criança, acompanhando meu pai. Naquela época a Vila era muito pequena e sem estrutura, eu vim saber o que era água jorrada de uma torneira e luz elétrica com catorze anos", relembra. 

Segundo Joka, a necessidade de manter a história e a cultura da Vila o levou a criar o Rango e Mãe e a Bodega, que já tinham o conceito de misturar comida e bebida com a apresentação do trabalho das rendeiras e objetos culturais diversos. O Rango de Mãe funcionou até 1997, depois, serviu como casa e oficina para as tradicionais rendeiras de bilro. Após exercer diversas atividades, Joka decidiu em 2013 reabrir o espaço com novo nome,  Tapiocaria da Vó, como um espaço cultural onde se pode degustar comidas regionais e frutos do mar.

Joka conta a história da Tapiocaria da Vó, que teve início com o Rango de Mãe

O início do projeto foi divertido, como relata Joka. "Consegui com o padre da época, João Maria, quarenta cadeiras e achei no lixo outras 17 cadeiras e 11 mesas e assim comecei a estrutura do bar. Achei na rua depois vine molduras e comecei a colocar os quadros que recebi de amigos, além de decorar parte da estrutura com taipa. Hoje, o espaço se apresenta como uma espécie de galeria de arte e museu, com centenas de obras de arte e objetos históricos, além de livros e revistas à disposição dos clientes. Esse acervo pode ser visto nas paredes e estantes do espaço interno, onde funcionam algumas mesas para os clientes, embora o espaço aberto, perto do palco e de cara com a rua e uma ventilação constante sejam mais disputados. 

COMIDA

Se como resgate histórico e cultural o espaço funciona, como restaurante não é diferente. O cardápio é enxuto e privilegia, claro, os frutos do mar e peixes, todos adquiridos por Joka na própria manhã, direto com os pescadores a quem conhece de uma vida.

O carro chefe da casa são os Bolinhos, nos sabores camarão, peixe, abóbora com bacalhau e (meu preferido) macaxeira com arraia, de comer ajoelhado. Como o nome indica, as tapiocas são feitas com excelência e em diversos sabores: camarão, bacalhau, carne, frango, com ginga, todas à moda antiga, ou "como nossas avós fariam", devidamente molhadas, consistentes e facilmente recheadas.

Nesses sabores a casa também oferece pastéis. Segundo Joka, há boa saída para Peixes pedidos por encomenda, como o Peixe na brasa na folha de bananeira e o Peixe com Moqueca de Camarão (próxima meta degustativa). Os caldos também são maravilhosos e fartos. Os preços são acessíveis e fazem justiça ao sabor e à apresentação dos pratos. 

MÚSICA

Além do espaço histórico-afetivo e o cardápio, a casa se destaca há anos por oferecer música de primeira qualidade. Centenas de artistas potiguares (Pedrinho Mendes, Família Pádua, Sueldo Soares, Carlos Zens, Ricardo e Clara Menezes,  Yrahn Barreto e muitos mais) e mesmo de outros estados já se apresentaram no pequeno palco do bar, atraídos pela proximidade com as mesas, ou seja, com o público e energia humana do espaço, em frente à igreja católica e ao lado de casas de pescadores e pequenos estabelecimentos comerciais. "Atualmente temos a quarta-feira do blues, a quinta do samba e choro e a sexta e sábado com gêneros musicais variados. Já recebemos muitos músicos aqui, é uma alegria saber que eles gostam de se apresentar aqui em nosso espaço", diz Joka. 

COMO APOIAR 

Porém, nem tudo são flores. Segundo Joka, "devido às dificuldades de manter nosso espaço em funcionamento, estamos realizando cursos de renda e encontros diversos,  exposições, eventos musicais e saraus poéticos. Mas para superar essas dificuldades estou realizando a venda de algumas obras de arte de artistas potiguares que fazem parte do acervo da casa, obras  que muita gente já se interessou em adquirir e no momento não estavam à venda, mas agora disponíveis", explica. No acervo para venda, obras de artistas como Assis Marinho, Pedro Pereira, Zé Avelino, Jorge Pegado, Furio Gordini (italiano), Luciano Luiz, Leonardo Filho (pernambucano) entre outros. Quem quiser ver as obras in loco é só ir na Tapiocaria. Quem desejar saber mais ou pedir para ver as obras por fotos no zap é só entrar em contato com Joka pelo 84 99970-4051.
 
FIQUE LIGADO:

Tapiocaria da Vó. 
Rua Manoel Coringa de Lemos, 478, Vila de Ponta Negra. 
Aberta de quarta a domingo, das 17h às 23h.