Casa passou por reforma e foi reaberta em dezembro. Este mês completa 118 anos. Foto Assecom

Reportagens

Teatro Alberto Maranhão já tem 70 espetáculos agendados, diz diretor Ronaldo Costa

Abertura para o público foi adiada devido o estrago causado pela chuva do dia 5, não havendo tempo suficiente para recuperação em poucos dias

08 de março de 2022

Por Cinthia Lopes | Típico Local

Algumas datas de aniversário marcam mais que outras pela notoriedade do festejo e do homenageado. O mês de março, por exemplo, é a cara do Teatro Alberto Maranhão. Um cenário bom para os artistas e de memória afetiva para o público é vê-lo iluminado de preferência com a fila da bilheteria se estendendo até a calçada. A caminho dos seus 118 anos (dia 24 de março),  a mais antiga casa de espetáculos do Rio Grande do Norte já está em outro clima, depois da obra de restauração realizada nos últimos anos e entregue em dezembro de 2021. Embora a agenda externa não tenha sido retomada, segundo o diretor atual, Ronaldo Costa, por causa dos decretos sanitários de contenção da Covid, a casa está aberta para visitas e, ao que tudo indica, em contagem regressiva para o vai-e-vem das cortinas de veludo vermelho, tão familiar a tantas gerações. 

Além do aniversário da construção do prédio, fundado como Theatro Carlos Gomes em 1904, este mês se comemora o Dia Mundial do Teatro e do Circo (27). Segundo o diretor, a volta à agenda natalense já conta com pauta quase cheia até o final de 2022. Pelo menos 70 espetáculos já reservaram datas em 2022. Para citar alguns com programação divulgada, tem o show do grupo O Teatro Mágico, com Fernando Anitelli e a cantora natalense Valéria Oliveira com o show Sacrário. Ambos ocorreriam em março, mas nesta quinta-feira 10, a Fundação José Augusto decediu adirar a programação de março. A direção da casa de espetáculos foi obrigada cancelar os eventos por conta do estrago causado pela chuva. Em nota, a Fundação José Augusto (FJA) informa que "em virtude das medidas adotadas após o alagamento parcial do Teatro Alberto Maranhão (TAM), provocado pelas fortes chuvas que caíram na Grande Natal no último 6 de março, estão adiados os espetáculos e eventos agendados para a programação do mês de março".  E mais: "Estão adiados os eventos “João e Maria na Floresta Encantada” e “Alice no País das Maravilhas” (Projeto Escola), o Festival Violas Potiguares, o espetáculo “Fernando Anitelli apresenta o Teatro Mágico Voz e Violão-Luzente”, o show musical “Sacrário”, da cantora Valéria Oliveira, a solenidade comemorativa do Instituto Histórico e Geográfico do RN e o Concerto Oficial da Orquestra Sinfônica do RN".

Confirmados

Ainda nesse semestre estarão em cartaz o premiado musical As Cangaceiras (SP), que tem no elenco os potiguares Badú Morais e Marcos França. O Dia dos Namorados está garantido com o show do hitmaker Guilherme Arantes. E ainda o Festival de Dança Open Dance, de alcance nacional conhecido por premiar com bolsas de dança no exterior. Além de espetáculos locais como Os Chicos,Destino Coletivo, e agendas do teatro-escola, como Bye bye Natal, Alice no País das Maravilhas, João e Maria, Fogo de Palha. Na programação dos aniversários se planeja reunir espetáculos contemplados pelos editais passados, caso da Lei Aldir Blanc.

Em meio às agendas de produtores e artistas independentes, a direção do TAM prepara uma ação própria de contação de histórias sobre a fundação do teatro, voltada a estudantes do ensino fundamental. “Estamos arquitetando o projeto para maio”, adianta Ronaldo. 

TAM reabriu no final de dezembro com muita pompa e celebração após ficar fechado desde 2015. Em janeiro e fevereiro, optou por atividades internas como gravações de projetos das companhias de dança. Enquanto não anuncia a agenda, o público pode seguir a nova rede social no Instagram @teatroalbertomaranhao.oficial Segundo o diretor, a administração anterior não deixou as senhas das redes antigas, que já possuíam um grande número de seguidores. Também vai estar disponível no site www.cultura.rn.gov.br

Ao TL, Ronaldo falou também sobre pautas livres e subsidiadas pelo Estado em dias ociosos, projetos do TAM, comissão curatorial que é uma novidade nessa gestão, editais de ocupação e a agenda de 2022. Uma curiosidade da nova administração: as famosas reservas de pauta contam com uma minuciosa tabela de preços de 54 diferentes valores — por exemplo artistas locais, artistas em estreia, turnês nacionais, eventos fechados, dentre outros com valores diferentes. 

Outro desafio do TAM, segundo seu diretor, é a recuperação do setor administrativo. “A maioria dos profissionais de carreira se aposentaram, mesmo assim hoje ainda temos cinco técnicos, são as figuras carimbadas do TAM, como Manoelzinho, Dalvinho, Aldenor, Idailton, os porteiros Adriano e Eli que são do quadro da Fundação José Augusto”, conta o diretor. Há ainda os terceirizados serviços gerais e auxiliares administrativos e portaria. Além do diretor Ronaldo, ocupa o cargo de subcoordenadora a administradora Iracema Saboya, um nome conhecido na cena cultural local. Confira trechos da entrevista:

Março é tradicionalmente a abertura da temporada do Teatro Alberto Maranhão por coincidir com o Dia Mundial do Teatro e do Circo e também com o aniversário da casa. Com a reabertura do TAM, o que está sendo planejado para este mês?

Ronaldo Costa: Antes de mais nada, vale salientar que o Alberto Maranhão não fechou as portas desde sua reabertura. Então janeiro e fevereiro devido aos decretos da prefeitura e governo em relação à pandemia, focamos em eventos fechados, a maioria  gravações. Tivemos dois grupos de Dança, o Coletivo Cida e o Movidos, que fizeram gravações no palco do TAM e uma ocupação de quatro dias. Na tradição, o dia 24 de março é o aniversário do TAM e o 27 é o Dia Mundial do Teatro e do Circo. Em ambas as datas a gente vai promover uma série de eventos e já estamos articulando as possibilidades. A gente tem os editais passados que podem servir como opção já que está na cláusula do edital que uma das apresentações seria realizada pela FJA gratuitamente para o público. Então é possível que façamos um festival com grupos contemplados nos editais anteriores da Fundação José Augusto. Também estamos pensando em reabrir o Centro Experimental de Teatro (escola da FJA) no local onde era o ensaio da Orquestra Sinfônica, já que a orquestra está alojada no Papódromo. 

Após a reabertura oficial, a direção do TAM chegou a lançar algum edital de ocupação?

Editais de ocupação tem uma característica específica. É quando o grupo, dentro de um período específico que vai de dois a três meses, tem a possibilidade de desenvolver atividades de formação, de pesquisa, com espetáculo. Nesse sentido eu acho que existe uma demanda reprimida do Teatro Alberto Maranhão que agora não temos possibilidade nesses moldes, porque existe uma quantidade de pessoas muito grande querendo desenvolver atividades no teatro. O que é possível a gente desenvolver é um tipo de edital, por exemplo de pauta livre nos dias ociosos  para pessoas poderem ter acesso ao TAM de forma subsidiada. No mês de janeiro fizemos uma reunião com a classe onde participaram mais de 100 artistas em janeiro onde colocamos a normatização do teatro e essa normatização foi lançada em Diário Oficial assim como também a tabela de precificação que determinamos para o TAM. Essa definição dessa tabela diferenciada junto com artistas que temos benefícios para artistas locais .


As pautas foram abertas e já existe uma programação até o final do ano, como está sendo feita essa reserva?

A gente definiu que o Teatro Alberto Maranhão também tem uma diferenciação com relação aos outros anos é que agora a gente tem um conselho curador formado pelo diretor do TAM, no meu caso eu. Um membro da FJA, Aécio Cândido, e outro membro da sociedade civil Rodrigo Bico, que foi indicado pela Rede Potiguar de Teatro. Existe um formulário que é preenchido e assinado ou enviado por email. Esse reserva só é consolidada a partir da análise do conselho curador. Após assinado o termo paga-se 30% para segurar a pauta. Já tem mais de 70 espetáculos no ano aprovados. 

 

Existe um valor diferenciado para o artista local?

Existe sim um diferencial para o artista local. E digo mais, o artista em estreia é a pauta mais cômoda que a gente tem. Os dias da semana de terça a quinta-feira são de valores menores. Sexta e sábado é o horário nobre mais cheio, e o domingo é intermediário. Desenvolvemos também um pacote, por exemplo o pacote 1 básico para espetáculos que utilizam apenas som mecânico, como os de dança. O pacote 2 e 3 tem uma quantidade de equipamentos para eventos maiores e shows musicais. Estamos fechando muitos shows. A pauta possui 54 valores diferentes, o artista local em estreia paga cerca 1200 na semana, ou 1600 sexta e sábado, e 1400 no domingo. Artistas de nível nacional o valor é mais elevado, tal como praticado nos demais teatros do Nordeste como o José de Alencar, o Arthur de Azevedo, o Santo Isabel, o Santa Rosa e o Teatro Deodoro.

Existe plano para abertura em dias e horários diferentes, por exemplo teatro-escola, e as matinês de domingo?

Já temos cerca de 7 ou 8 espetáculos de teatro-escola, preços por turno, por exemplo, 600 reais, à noite 800 reais. As visitas também estão abertas e o estudante pode conhecer o teatro.


A experiência de auxílio à montagem para incentivar espetáculos teatrais está nos planos do TAM?

Desde 2019 a gente já desenvolve editais direcionados para montagem de espetáculos, mas por conta da pandemia esse direcionamento foi para a internet. Iremos continuar a pensar no pós pandemia para reestruturar o setor da melhor forma possível.

 

Texto atualizado em 10.02.2022 por motivo de adiamento dos espetáculos de março