Titane pode ser visto pela plataforma Mube
Agenda Cultural
Vencedor em Cannes ano passado, filme transita entre o terror e a perversão , ainda assim tem espaço para ternura
13 de fevereiro de 2022
Cefas Carvalho
Enfim, assisti "Titane" o aclamado, controverso, criticado e premiado filme de Julia Ducournau. Antes de tudo é preciso que se diga que não é um filme para todos os públicos. O filme é incômodo, agressivo e em algumas medidas soa como filme de terror, repulsivo, até. Mas, não se pode negar que é um filme poderoso, tanto que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes no ano passado.
A história é bem estranha e inquietante. Um violento acidente de carro causado por uma birra entre pai e filha pequena deixa a menina Alexia com uma placa de titânio no crânio e com um trauma que depois se mostra na juventude: ela tem atração sexual (na verdade, até mais que isso...) por carros e trabalha como dançarina erótica justamente em um show room de veículos. Um assédio a ela acaba de maneira trágica e a partir daí ela se descobre grávida. Em uma espiral de violência, acaba sendo confundida por um bombeiro (bonachão, alegre e viciado em drogas) de que é o filho (sim, filho, não filha) desaparecido dele (ela induz a isso). Tem muito mais coisas, mas, enfim, o plot já mostra o que vem pela frente. Uma mistura de carne e metal, erotismo e afeto (de onde menos se espera e de maneiras complexas).
Como é de praxe no cinema francês da última década e meia, o filme começa em uma pegada (aqui, com terror e perversão) e depois muda completamente (debate gênero e poder da empatia e afeto) mas depois descamba tudo de novo.
É preciso registrar que Ducournau é uma das expoentes do chamado ´Novo Extremismo Francês`, filmes que flertam com o horror mas de uma maneira ´artística` e bem europeia, diferindo em muito do giallo italiano e da burocracia dos filmes estadunidenses. "Titane" é apenas o segundo filme dela, o primeiro, "Grave" (2017), aborda canibalismo e é barra-pesada até para gente acostumada com cinema incômodo (meu caso). Outros filmes bons (e terríveis) do movimento são o "Irreversível" (2002) de Gaspar Noé e o desesperador "Mártires" (2008), de Pascal Laugier (esse mexeu comigo por muito tempo).
Em "Titane" o roteiro tem uns furos aqui e acolá mas no geral funciona. A direção é segura e ousada. Agathe Rousselle está ótima como a perturbada Alexia e o conhecido Vincent Lindon - ator sempre discreto e introspectivo - surpreende pela atuação física e explosiva como o bombeiro. Não sei se recomendo e não sei se gostei. Mas mantenho a posição de que o cinema - como a arte em geral - deve incomodar o espectador e tira-lo de qualquer zona de conforto. Aqui, com automutilação (cena bem forte e desagradável), assassinato, sexualidade não convencional, a saída da zona de conforto é bem radical. Só assista se gostar de se sentir incomodado/a. E sem crianças a um raio de um quilômetro de onde estiver assistindo.
PS: Assisti pelo MUBI e recomendo muito a plataforma, que tem filmes não convencionais de dezenas de países diferentes, filmes que não se acha ne Netflix ou Amazon Prime. As assinaturas tem planos de R$ 19,90 e R$ 29,90. Foi dos melhores investimentos culturais que fiz nos últimos tempos.
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