Um brinde à amizade: Bar 54 completa dez anos em Ponta Negra

Por Ramon Ribeiro | colaboração para o Típico Local

O ano era 2012. Os catarinenses Márcio e Tullio estavam de volta depois de uma longa temporada no exterior onde viveram de tudo. Mas levar uma vida no sul do país não estava nos planos. Amigos desde o tempo da escola, eles decidem se unir em um projeto diferente: abrir um bar no Nordeste, e Natal parecia o lugar ideal.

Experiência com negócios eles não tinham nenhuma. E a cidade era uma completa desconhecida para ambos. Mas ninguém tiraria da cabeça dos dois esse sonho de começar algo novo e completamente do zero.

O bar em questão é o Bar 54, que neste mês de abril está completando 10 anos de funcionamento - provando que a intuição da dupla estava certa.

Localizado em Ponta Negra, mas afastado da badalação das principais vias gastronômicas do bairro, o 54 ganhou fama por sua decoração única, que combina objetos vindos da Europa com móveis antigos da feira do vuco-vuco do Alecrim.

A inspiração cosmopolita vem da vivência de quase seis anos de Márcio e Tullio por países de culturas totalmente distintas, como Espanha, Irlanda, Tailândia, Nova Zelândia e Holanda, onde trabalharam em todo tipo de emprego, principalmente em bares, boates e cafeterias.

Drinques descolados ressaltam a variada carta de bebidas |  O menu também é criativo, com brusquetta de pêra, gorgonzola e amêndoas

Segundo Márcio, a ideia inicial do 54 era ser um drink bar ao estilo do El Imperfecto, de Madri, com foco somente nas bebidas. Porém, de cara precisaram mudar os planos. “Na Europa é comum sair só para beber. Mas aqui vimos que o pessoal gosta de petisco. Tivemos que nos reinventar”, lembra.

A solução imediata foi investir num forninho elétrico e fazer bruschettas. Elas são sucesso até hoje na casa, especialmente a de pera com gorgonzola e amêndoas laminadas, e a de guacamole com camarão - duas delícias!

Ao longo dos anos, o cardápio foi ganhando pratos novos a partir da sugestão dos próprios clientes. “A batata Chilli Cheddar, por exemplo, era um petisco que fazia sucesso na cidade e o pessoal cobrava direto. Se tornou um dos nossos pratos mais pedidos”, comenta Tullio, destacando também os Nachos Guacamole e o Black Burguer 54. 

O bar se tornou reduto de um público adulto e descolado. Muitos são moradores do próprio bairro, chegam de bicicleta, outros são intercambistas e turistas que buscam um lugar despojado para conversar e se divertir.

Calçadinha é o local mais disputado nos finais de semana

A calçadinha é o espaço mais disputado e está sempre lotada nos finais de semana. Na parte interna, a sinuca é um ótimo atrativo. A casa também dispõe de outros jogos, como Uno, dominó e cartas. Alguns mais instigados às vezes aparecem para jogar poker. Mas o movimento no bar nem sempre foi assim. Márcio conta que para atrair público tiveram a iniciativa de promover shows de comédia.

“O Tullio tinha trabalhado num comedy bar famoso em Dublin. Resolvemos apostar na ideia e deu super certo”, recorda. Inclusive, em show no Teatro Riachuelo mês passado, o comediante Rodrigo Marques, nome que desponta na comédia brasileira atual, lembrou de sua passagem pelo Bar 54. “Ele perguntou se o bar ainda existia. E eu lá da plateia gritando siiiiiiim! Mas acho que ele não escutou. Apenas tirou onda: Quem aproveitou, aproveitou. Naquela época era 15 reais a entrada, hoje vocês estão pagando mais de 100 contos”.

Outras iniciativas que também marcaram a história do 54 foram as festas temáticas. Já teve festa havaiana, mexicana, halloween. Mas a que entrou para o calendário de Natal foi a do St. Patrick's Day, de cultura irlandesa. Aliás, a história do 54 tem um pézinho na Irlanda. O nome foi escolhido em referência ao número do apartamento em que os dois amigos moraram em Dublin.

Dupla em ação no balcão do 54: amizade que virou negócio | E o Black Burger 54, um dos favoritos da casa

LIÇÃO DE EMPREENDEDORISMO
Em um mercado tão volátil como o de bares e restaurantes, onde 50% dos novos estabelecimentos fecham a porta em menos de dois anos de operação, chegar a uma década de funcionamento com o Bar 54 é uma conquista e tanto para os proprietários Márcio e Túllio, principalmente porque eles aprenderam a gerenciar o negócio na prática, corrigindo os erros no meio do percurso.

A dupla chegou em Natal com R$ 15 mil cada. Moraram em um hostel em Ponta Negra, promoveram festas, integraram-se ao bairro, tudo de modo muito natural e intuitivo. E o que mais chamou a atenção foi o calor humano.

“A gente foi muito bem recepcionado em Natal. Aconteceu aquilo que muitos falam, de que o nordestino abre a porta de casa pra você. E isso foi outro choque cultural pra gente, porque no sul o pessoal é mais fechado e as experiências fora do Brasil foram completamente diferentes”, conta Tullio. “Todo mundo nos dando boas-vindas, incentivando nosso sonho. São amizades que temos até hoje e que foram muito importantes no começo do bar”, acrescenta Márcio.

Mas no meio do perrengue, dar uma ligada para os pais em busca de consolo ajuda bastante. “Lembro de uma vez ligar para o meu pai, eu estava bem triste porque o bar não deslanchava. E eu achava que o problema era a localização meio escondida. Ele falou algo que guardo pra sempre: ‘Filho, faz com amor pra ficar bem feito. Porque quando um negócio é bom, não importa o endereço, as pessoas viajam o mundo só para conhecer’. E é verdade”, recorda Tullio.

O mês de abril tem sido de alegria e gratidão para a dupla. E nada melhor do que compartilhar esse momento com os clientes amigos, fazendo valer o que sempre acreditaram: viver é conhecer pessoas. E foi para celebrar a vida que eles criaram o Bar 54.

Bar 54
Funcionamento de terça à quinta, das 18h às 01h. Sexta e sábado, das 18h às 02h. Endereço: Rua Porto Mirim, 8995, bairro de Ponta Negra. Instagram: @bar54_.