Crédito: José Correia Torres Neto
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As ações descritas apresentadas na literatura se enquadram em nossas experiências de vida e nos permitem esboçar os mais diversos sentimentos.
01 de setembro de 2020
Por José Correia Torres Neto | Mestre em Engenharia Mecânica e Editor de Publicações
Foi em 1984, quando Uma rua como aquela (Editora Record, 1983), o segundo livro de Lucília Junqueira de Almeida Prado, chegou às minhas mãos. Não sei se foi como leitura obrigatória de escola ou iniciativa própria, mas lembro que bati o livro, de capa a capa, em pouco mais de uma semana. O exemplar já estava na décima sexta edição e havia conquistado o Prêmio Jabuti de Literatura Juvenil no ano de 1971 – claro que fui saber dessa informação trinta e seis anos depois, cavoucando a vida da autora, hoje com 96 anos, 51 anos de publicações e com mais de 65 livros escritos, a maioria infantojuvenil.
Ainda tenho o livro em minhas estantes e o resgatei há alguns dias depois de um sonho em que conversava com minha mãe, em uma casa que chegamos a morar por quase três décadas. Ao longo do sonho e durante a conversa, lembrei do Uma rua como aquela e o comparei, ainda no sonho, com as ruas que morei. Acordei no meio da madrugada e fiquei descrevendo o sonho – uma mania besta que peguei depois de ler alguns conselhos de Sidarta Ribeiro n’O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho (Companhia das Letras, 2019), e que serve, até por demais, para memorizar o que se sonha além de “[...] que enriquece enormemente a vida onírica [...]” (RIBEIRO, 2019, p. 17); mas isso já é mais uma história para um futuro, se por acaso houver algum.
São esses elementos memorialísticos que conseguem se associar, involuntariamente ou não, ao elemento literário, e não nos custa muito reportar uma situação, ou um fato semelhante, descrita em um texto, a algo vivido ou simplesmente presenciado. São as ações descritas e os sentimentos apresentados na literatura – seja qualquer gênero que apeteça ao leitor – que se enquadram em nossas experiências de vida e nos permitem esboçar os mais diversos sentimentos.
Evidentemente que não vou afirmar que os sonhos podem se relacionar com os livros que estão escondidos em nossas memórias: não tenho formação, argumentos científicos, nem a mínima competência para desenvolver tal assunto; mas é certo que a impressão dos fatos pode nos fazer associá-los aos sonhos, já que “Para sonhar com emoções tão fortes é preciso vivê-las na vigília. A matéria do sonho são as memórias, ninguém sonha sem ter vivido.” (RIBEIRO, 2019, p. 17).
Quando comecei a escrever este texto, meu único objetivo era o de falar apenas de Uma rua como aquela e de Lucília Junqueira de Almeida Prado – adoro esses nomes completos –, mas percebe-se que descarrilou o assunto para sonhos, oráculos, memórias; tudo foi circunstancial. Tão circunstancial como lembrar de Fernanda Young, Rubem Fonseca, Claudia Tajes e Charles Bukowski e dos fragmentos que cada um fornece para as minhas horas de sono e instantes oníricos. Findo porque o descarrilamento tende a continuar...
RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite: a história e a ciência do sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
PRADO, Lucília Junqueira de Almeida. Uma rua como aquela. Rio de Janeiro: Record, 1983.
PARA NÃO CAIR NO ESQUECIMENTO:
“Poder-se-ia dizer que a autoridade que censura e que, por este gesto, credita ao livro uma força quase sobrenatural, deveria conforme sua crença, em vez de proibir, responder ao impresso pelo impresso.” (GOULEMOT, Jean-Marie. Esses livros que se lêem com uma só mão: leitura e leitores de livros pornográficos no século XVIII. São Paulo: Discurso Editorial, 2000.)
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