A vida sempre renasce. Foto Free Pik

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VASTOS SENTIMENTOS PARA 2023

Um pouco de coragem outro de alívio, esperança, respeito e felicidade pela vida que recomeça

06 de janeiro de 2023

Clotilde Tavares

ALÍVIO

Estou respirando de novo. Era como se um colar de ferro estivesse em volta do meu pescoço. Minha voz garroteada. Enrouquecida, entrecortada, falha. Ia falar, não conseguia. Minha principal característica, a palavra, a comunicação, a oralidade – grampeada. Agora esse anel apertado sumiu. Eu respiro, eu volto a respirar, eu estou enchendo meu peito com o oxigênio da Democracia.

ESPERANÇA

Nesses anos desgovernados, eu definhei. Fazendo das tripas coração, atravessei esses quatro anos produzindo menos da metade do que estou acostumada. Achei que era a velhice, que afinal havia chegado. Não era. A velhice está chegando, sim, mas não é ela a responsável pela decadência, pela tristeza, pela paralisia na qual eu estava mergulhando. O que estava me matando era o ambiente de negacionismo, o ataque à ciência, o desprezo pela vida humana, o projeto de destruição da cultura. Aí, há bem pouco tempo, começou a soprar uma leve brisa, perfumada e doce. A Esperança começou a brotar, vinda de todo canto, do Brasil profundo e das praias do litoral, vinda da nossa alma ancestral, da luz que ainda teimava em permanecer acesa dentro de cada um de nós, primeiro essa brisa, essa aragem, e agora esse vento firme, poderoso, constante, e que enche as velas do nosso navio-Nação e nos impulsiona em direção ao Futuro.

CORAGEM

Estou cheia de coragem. Pela vida que recomeça, cheia de possibilidades, mesmo para uma pessoa como eu, que renasci de mim mesma para encarar essa nova fase da vida, pois estou brotando outra vez, agora junto com este país que teima em acontecer de novo, mesmo sobre a terra arrasada deixada como único legado do desgoverno anterior. Quero estar junto com a galera, com a rapaziada, reinventando a roda, estimulando ideias, juntando gente para pensar, para ter ideias, para celebrar a vida e a alegria de trabalhar, de construir, de colocar tijolo em cima de tijolo, de misturar a argamassa, de carregar o balde com a água, mesmo se for essa tarefa simples que me couber, eu quero! Me dê logo esse balde de uma vez, que carregarei com alegria!

RESPEITO

Sinto, do mais profundo do meu ser, um respeito profundo por quem trabalhou por esse país que está renascendo, para que ele renascesse assim, cheio de disposição e esperança. Sinto respeito por quem soube lutar o bom combate, na disputa do campo democrático, sem insultos e sem agressões. Respeito por quem abriu mão de lazer, de repouso, de tempo livre, para ajudar, da forma como podia. Respeito por quem permaneceu 580 dias na vigília em Curitiba, porque isso era preciso, para alimentar a coragem e a firmeza. Respeito a quem praticou a esperança em vez do desespero, a mão estendida aberta em vez da mão empunhando a arma, a verdade em vez da mentira, a informação em vez da fakenews, a compaixão em vez do desprezo, o amor em vez do ódio, o sorriso amável em vez do ranger de dentes. Respeito a quem fomentou a Vida no lugar da Morte.

FELICIDADE

Como não ser feliz agora? Os que me cercam dizem que estou chorando muito. Cuidado, mãe, se acalme, cuidado senão você enfarta. Não, não vou enfartar. Meu coração é guerreiro, guerreiro do povo brasileiro. Mas ele precisa ser lavado e enxaguado com as lágrimas de alegria. Choro quando vejo na TV os discursos inspirados dos ministros escolhidos para puxar esse cordão da reconstrução. Choro quando vejo o povo brasileiro, na sua diversidade, subindo a rampa em direção ao futuro. Choro quando vejo a multidão em estado de graça, sorrindo, cantando, se beijando e se abraçando, numa tranquilidade sem incidentes, impensável há bem pouco tempo. Choro quando vejo o tamanho e a enormidade da tarefa que temos à frente, porque “de cada mil lágrimas nasce um milagre”, como diz a canção. E o milagre que eu espero é viver mais, mais um pouco, para que eu, junto com toda a Nação brasileira, possa ver o Brasil na sua plenitude, feliz de novo, sorrindo outra vez.

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