Instituto Waldemar de Almeida sempre foi referência na formação de músicos e apresentações de grupos

Reportagens

Waldemar de Almeida: A luta pela qualidade do ensino no Instituto que leva seu nome

Uma das mais importantes escolas de música de Natal passa por fragilidades: Sem atividades e o descuido com o piano Steinway

31 de maio de 2022

Por Fabio Presgrave *

Ando refletindo sobre o Instituto Waldemar de Almeida. A escola carrega o nome de um ícone nosso e está em momento de fragilidade. Não apresenta no momento uma proposta social de relevância, como por exemplo projetos robustos voltados à formação dos jovens de Mãe Luiza poderiam ser empreendidos, sendo que os alunos poderiam ir caminhando, só para citar uma das possibilidades. Não vejo repercussão de grupos formados por alunos, nem apresentações de alunos de impacto na cidade como as que ocorreram em um passado não tão longínquo assim.

O Instituto ainda conta em seu quadro com excelentes professores que precisam de reconhecimento e apoio. Lembremos de lendas que transformaram o cenário musical do Rio Grande do Norte, como Manoca Barreto, tiveram no Instituto Waldemar de Almeida a sua casa. Mais contraditório ainda é saber que a Instituição possui um piano Steinway muito bom, sem manutenção adequada e não utilizado para performances pública, logo a Escola que leva o nome de Waldemar de Almeida. 

O professor Waldemar de Almeida é a personificação da filosofia dos projetos sociais quando ainda nem se falava nisso. Ensinou generosamente para centenas de alunos o conhecimento de ponta que adquiriu em Paris e Berlim no início do Século XX e  formou gerações de pianistas extraordinários e como gestor consolidou muito do que temos hoje em termos de ensino de música no RN.

O maestro e pianista Waldemar de Almeida

Temos um estado sem pianos (“despianado”) nos espaços públicos, isso é triste pois inviabiliza que o público potiguar ouça obras de gênios como Oriano de Almeida, Mário Tavares, VIlla-Lobos e Beethoven. A ausência de pianos impossibilita a execução de um volume imenso de obras que vão de Bach a Wagner Tiso! O piano é um instrumento agregador, a sua falta prejudica a todos os outros e os cantores. 

Desde o início deste ano há iniciativas na Capitania das Artes, Instituto Histórico e Geográfico do RN e na Academia de Letras do RN envidando esforços na direção da disseminação de pianos e suporte a jovens pianistas em Natal, mas essa luta que começa a ganhar força não pode ficar restrita a capital.

Aldo Parisot disse em entrevista célebre na TVU que: “ um país sem cultura é uma nação sem alma”. Uma parte dessa alma cultural é o piano. Precisamos de pianos de qualidade e em plena condição de funcionamento no Teatro Alberto Maranhão, em Mossoró, Caicó, na verdade temos que sonhar e, todas as cidades do Estado.. Precisamos de pianos não apenas nos teatros mas em alguns Auditórios de Escolas nas periferias, porque não poderíamos começar por um piano ao menos em pleno funcionamento para cada mesorregião do Estado? A nova geração de pianistas potiguares está vindo com muita força, ganhando prêmios nacionais e internacionais, pena que serão ouvidos por pouquíssimos por aqui.

Uma parte da alma da cultura do Rio Grande do Norte é Waldemar de Almeida e o Instituto que leva seu nome precisa brilhar e resplandecer a glória que emana de Waldemar! O Estado em que nasceu e trabalhou Waldemar de Almeida não pode ser “despianado”!

Waldemar de Almeida: A luta pela qualidade do ensino no Instituto que leva seu nome e o que fazer sobre pianos no Rio Grande do Norte?

*Fabio Presgrave  é violoncelista, Mestre pela Juilliard School de Nova Iorque, Doutor pela Unicamp. Vice-Diretor da Escola de Música da UFRN e professor nos Programas de Pós-graduação em Música da USP e UFRJ.