Wilson Gorj é escritor e editor, com vários livros publicados
Reportagens
Fundador da editora Penalux fala sobre sua escrita e os próximos projetos, a estreia do romance A inevitável fraqueza da carne"
29 de março de 2023
Cefas Carvalho
Nascido em 1977 em Aparecida do Norte, São Paulo, onde mora até hoje, Wilson Gorj é escritor e editor. Na primeira atividade, foi publicado em diversas antologias e coletâneas e publicou três livros: "Sem contos longos" (2007), "Prometo ser breve" (2010) e "Histórias para ninar dragões" (2012) e prepara o lançamento de seu primeiro romance, "A inevitável fraqueza da carne".
Como editor, é sócio-fundador (juntamente com o poeta Tonho França) da Editora Penalux [www.editorapenalux.com.br], editora independente que completou dez anos em 2022 e está se aproximando dos 1500 títulos publicados, tendo revelado autores contemporâneos e também autores finalistas e vencedores de diversos prêmios literários.
Entre os nomes publicados pela casa, a escritora Maria Valéria Rezende, os poetas Antonio Carlos Secchin e Antonio Cícero, e o escritor Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano Ramos. Sobre sua obra, a editora e a literatura em geral, Wilson conversou com a reportagem. Confira:
Como a escrita entrou na sua vida? Você era uma criança, um jovem que gostava de ler? Tinha acesso a livros?
Não sei precisar exatamente quando isso aconteceu. O que eu sei é que não foi durante a infância. A semente dessa paixão pelos livros deve ter germinado em mim lá pelo fim da adolescência, quando comecei a me interessar por compositores como Raul Seixas, Renato Russo, Humberto Gessinger, entre outros. Eu era muito atento às letras de suas canções, ao que elas transmitiam de poesia e reflexão. Foi nesse tempo também que passei a mergulhar nos livros e a rabiscar minhas primeiras tentativas literárias.
Antes de se tornar editor como escritor você participou e foi selecionado em coletâneas. Fale sobre esse período e qual a importância delas.
Nesses anos de leitura, eu escrevia muito em recortes de papel, que eu dobrava e guardava numa caixa. Depois vieram os cadernos. Arriscava poemas, vez ou outra algum conto, mas predominantemente escrevia reflexões (sentenças, aforismos, desabafos) e trechos aleatórios de histórias esboçadas, inconclusas. Era um hábito muito íntimo, a escrita. Não compartilhava isso com ninguém. Até que tomei coragem e mostrei um desses textos a uma amiga, professora de Português, e ela me estimulou a participar de um concurso de contos na minha cidade. Participei e fiquei com o segundo lugar. No dia da premiação, um jornalista, que conduzia um periódico cultural aqui na minha região, me convidou para escrever textos curtos para seu jornal (O Lince). Da busca pela concisão necessária para atender a esse convite, nasceu meu interesse e dedicação ao gênero que me levou à publicação de três livros, isto é, a microficção, as tais micronarrativas, mais conhecidas como micro contos e minicontos. Graças a esses livros que publiquei, não só conheci outros autores como também me inseri no meio editorial. Não por coincidência, o último livro desse período, o “Histórias para ninar dragões”, foi lançado no ano em que fundamos, eu e o poeta Tonho França, a editora Penalux, ou seja, em 2012. Antes, porém, de 2010 a 2012, eu fui responsável pelo, hoje extinto, selo 3x4: micro ficções, pelo qual ajudei a publicar mais de 20 títulos, de diversos autores que também se dedicavam ao gênero minimalista.
Como autor, você publicou "Sem Contos Longos" (2007), "Prometo Ser Breve" (2010) e "História para Ninar Dragões" (2012) e prepara lançamento do novo livro para este ano. Qual a avaliação que faz de sua obra publicada e de que se trata o novo projeto?
Essas obras trazem em comum anos de pesquisa, leitura e produção literária focada no campo da microficção. São compostas por textos enxutos, mínimos, muitos deles não passando de duas ou mesmo de uma linha. Reúnem micro contos, minicontos e, em menor medida, poesia minimalista – como é o caso do livro “Prometo ser breve” (2010). Já o novo livro, que lanço neste ano, vem após um intervalo de dez anos sem escrever ficção. A proposta da obra foi mais um golpe do acaso do que uma determinação autoral. Eu estava, sim, decidido a lançar algo novo após esse tempo sem publicar, mas a princípio seria um outro conjunto de micro contos/minicontos. Tendo em vista que ainda conservo um bom material inédito registrado nos meus cadernos, eu estava passando esse conteúdo manuscrito para o computador, quando me deparei com uma sinopse de romance perdida em meio a outros rascunhos. Foi então que a vontade de arriscar uma aventura nova, empreendendo finalmente uma trama mais longa e desenvolvida, se sobrepôs ao projeto inicial, que era coletar material para uma nova coletânea. Gastei nove meses na elaboração do romance, cujo enredo, em alguma medida, trata de traições e mentiras, do desejo como força motriz para provocar mudanças na rotina das pessoas.
A estrutura do título remete à famosa obra do Milan Kundera: “A insustentável leveza do ser”. Mas é só uma referência gaiata, irreverente, uma pequena homenagem ao autor. Não houve nenhuma pretensão minha de se aproximar do universo literário criado pelo escritor theco. “A inevitável fraqueza da carne” (2023) é uma obra que se pretende leve, em que pesem as pequenas tragédias que ocorrem em suas páginas. É meu primeiro romance. Pode ser o único. Não faço ideia do que virá após a publicação.
Junto com o poeta Tonho França, você fundou e coordena a Editora Penalux, que se destaca entre as editoras independentes e de pequeno e médio porte. Como foi criar a editora e como avalia a trajetória dela até aqui?
Mais do que uma atividade profissional, porque é dela que extraio o meu sustento, a editora é um projeto de vida, tendo em vista que trabalhar com livros tornou-se meu sonho desde quando comecei a me interessar por literatura. Tudo começou quando eu e o Tonho trabalhávamos como editores ´frilas` numa outra editora independente, também especializada em pequenas tiragens. Tivemos uma experiência de aproximadamente dois anos, da qual extraímos o conhecimento necessário para nos aventurar com uma editora que fosse nossa, à qual poderíamos aplicar livremente nossa forma de editar. Assim nasceu a Penalux, em junho de 2012. De lá para cá já publicamos quase 1.500 títulos.
E sobre o mercado para editoras independentes e de pequeno e médio porte, como avalia a situação atual? Quais as dificuldades enfrentadas?
Administrar uma editora tem suas delícias (afinal, estamos falando da produção de livros, que são a nossa paixão), mas também seus dissabores, porque as dificuldades, muitas vezes de ordem financeira, sempre se impõem durante o processo. Apesar dos pesares, temos conseguido levar a Penalux sem muitos sobressaltos. Claro, tivemos a pandemia, um longo período sem lançamentos presenciais, eventos que para uma pequena editora são fundamentais para a comercialização dos livros, visto que as vendas, de um modo geral, tendem a ser tímidas após o lançamento. Mas sobrevivemos a esse período nefasto sem diminuir muito o ritmo de publicações em relação ao período pré-pandemia. Foram tempos conturbados, esses últimos anos: o país amargou retrocessos e, como não poderia deixar de ser, isso impactou negativamente no meio produtivo, principalmente quando se trata de produção cultural, cujo estímulo foi mais afetado ainda. A despeito disso, estamos confiantes de que teremos dias melhores pela frente. A Penalux completou recentemente dez anos de atividades. Pretendemos somar outros dez à nossa trajetória.
Como escolher as obras a serem publicadas pela Penalux? Que critérios de seleção são usados e como se dá o contato com autores/as?
Critérios como qualidade, originalidade, pertinência à nossa linha editorial, compõem o básico para a aprovação. Também levamos em conta o perfil do(a) autor(a), ou seja, se ele tem afinidade com a proposta da Penalux. Nesse sentido, já no primeiro contato com a editora, mandamos para o(a) autor(a) interessado em publicar conosco, um arquivo contendo os nossos esclarecimentos; de forma que o autor ou a autora possa avaliar se a avaliação e a publicação pela Penalux será interessante para o seu livro. A partir daí, confirmado o interesse na publicação, inicia-se o processo de avaliação, que atualmente tem oscilado de 15 a 30 dias.
Qual sua opinião sobre as premiações literárias? Elas realmente jogam holofotes em livros, autores e editoras?
Não há dúvida de que prêmios são muito importantes para projeção de uma obra. É como se o livro passasse a ter um selo de qualidade a mais. Mas nem sempre são garantia de validação ante o público-leitor. Digo isso porque é comum um livro ser premiado, até mais de uma vez, e mesmo assim não despertar uma procura relevante por parte dos leitores. Claro que uma premiação de destaque costuma dar aos autores uma boa vitrine e abrir espaços na mídia cultural e, às vezes, até mesmo as portas de uma editora maior. Dessa forma, é legítimo que os autores queiram concorrer aos prêmios e torçam para se destacar nos resultados. A Penalux já se tornou finalista em vários certames e também venceu alguns. É um momento de muita alegria quando isso ocorre, tanto pela editora quanto pelos autores agraciados.
Quais os autores e autoras que mais se orgulha de ter publicado?
Temos no catálogo quase 1.500 títulos publicados. É difícil apontar um ou alguns que tenham me cativado mais. Mas para ilustrar esses momentos de “orgulho do editor” cito o livro “O grande deus Pã”, do galês Arthur Machen, obra em que tive uma participação muito ativa, em parceria com o escritor e tradutor Chico Lopes. O livro estava esgotado há décadas no Brasil. Acredito que fomos a primeira editora a trazê-lo de volta à circulação e foi um dos títulos que mais teve projeção em nosso catálogo.
Quais seus livros preferidos? E quais os autores/autoras que mais te impactam e influenciam?
Contemporâneos são vários. Tanto daqui quanto de estrangeiros. Do Brasil, destaco um clássico: Machado de Assis, cuja obra sempre frequento. De fora, cito outro grande escritor: Vladimir Nabokov.
Como fazer para fomentar a leitura, principalmente entre crianças e adolescentes?
Além do óbvio, que é o investimento público na área da educação, penso que requer muita criatividade por parte dos educadores para incutir nos alunos o gosto pela leitura em meio a tantas distrações tecnológicas. Algumas mudanças são necessárias e penso que estas já estejam ocorrendo, como, por exemplo, a participação de autores (regionais ou não) em encontros com estudantes para falarem não só de sua obra como de literatura de uma forma geral. Esse contato direto com o escritor serve de estímulo, porque pode criar aspirações literárias em algumas crianças e adolescentes, e além do mais a literatura contemporânea nacional promove uma identificação maior nesses novos leitores, tanto em termos de linguagem como de conteúdo. Aliás, alguns clássicos indicados em sala de aula os afastam justamente nesse sentido. Outro estímulo de leitura aos pequenos se dá pelo exemplo: o contato frequente com adultos que leem tende a estimulá-los a procurar os livros. De minha parte, nunca forcei a barra para que minha filha se interessasse por leitura. Ela tem 11 anos e seu gosto por ler partiu mais dela do que de mim. E acredito que isso ocorreu por causa do exemplo: ela sempre me vê com algum livro na mão. Ela percebe que o convívio com livros, para mim, é muito mais do que um trabalho: é um lazer. Uma paixão, sobretudo.
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