Esta será uma ótima oportunidade de ter novamente acesso aos livros de Zila Mamede

Colunas

Zila Mamede: poesia viva de novo e completa

Em iniciativa pioneira e inédita, a Editora da UFRN relança os seis livros de uma das maiores autoras da poesia local

15 de maio de 2023

Cinthia Lopes


 Noventa e cinco anos depois de nascida, o nome dela ressoa como um dos mais importantes na literatura local. Zila Mamede (1928-1985) facilmente se inscreve entre aqueles de maior reconhecimento de público e crítica no que diz respeito à poesia produzida no Rio Grande do Norte. A despeito de uma polêmica desnecessária de que ela nasceu em Nova Palmeira, interior da Paraíba, a poetisa viveu desde sua infância em Currais Novos e já no começo da adolescência passou a morar em Natal na época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 

Desde então, publicou significativa parcela de sua produção poética em periódicos locais e nordestinos a partir do começo da década de 1950, justamente quando surge a estreia de Zila em livro com os 36 poemas de “Rosa de pedra” (1953), livro lançado pelo Departamento Estadual de Imprensa e que, numa coincidência do destino, também seria o ano de falecimento do poeta Jorge Fernandes, primeiro poeta moderno a publicar livro na literatura norte-rio-grandense.

Imparável e ousada, Zila passou a enviar poemas para Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, obtendo dos dois grandes nomes da lírica nacional uma atenção especial, ambos ajudando pessoalmente na estadia no Rio de Janeiro, quando ela se tornou Bacharel em Biblioteconomia pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em 1956. Em seguida, vieram as obras “Salinas” (1958) e “O arado” (1959), todas agora sendo relançados de forma individual junto às publicações “Exercício da palavra” (1975), “Corpo a corpo” – de 1978, inserido como parte inédita da compilação “Navegos” e pela primeira vez sendo lançada como obra autônoma nesta nova edição – e ‘A herança”, de 1984, este sendo seu último livro, publicado um ano antes de vir a falecer de afogamento no litoral da cidade de Natal.

A lírica de Zila Mamede acabou se tornando um marco na produção feminina brasileira a partir da década de 1950, sendo identificada parcialmente pela crítica literária como representante da chamada “Geração de 45”, estando ladeada por nomes como Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa no que diz respeito à sua produção poética, repleta de temas envolvendo o intimismo de ser humano por um lado em suas três obras iniciais e, por outro lado, nas publicações seguintes, já nas décadas de 1970 e 1980, carregando uma lírica muitas vezes mais focadas em uma viés mais urbano que veio a influenciar gerações seguintes de nomes potiguares, a exemplo da poesia de Myriam Coeli, Marize Castro, Diva Cunha, Iracema Macedo, Kalliane Sibelli de Amorim, Ada Lima e muitas outras.

Esta será uma ótima oportunidade de ter novamente acesso aos livros de Zila Mamede, cuja última publicação de suas obras oficiais ocorreu em 2003 com a coletânea “Navegos / A herança”, também publicada pela EDUFRN, e em 2013 saindo a edição bilíngue em português e inglês de “Rosa de pedra/The stone rose”, primeira obra do gênero poético no estado a ser publicada em língua inglesa na tradução de Alexandre Alves, cuja edição foi pela editora Queima-Bucha, de Mossoró (RN). Nas últimas décadas, Zila Mamede tem surgido em coletâneas de alcance nacional, como os volumes “Os melhores poemas brasileiros do século XX” (Editora Objetiva), este organizado por Italo Moriconi em 2001, e “Roteiro da poesia brasileira anos 50” (Editora Global), compilação organizada por André Seffrin em 2007, causando um reconhecimento – ainda que tardio – pela crítica literária do sudeste do país.

A iniciativa de republicar todas as obras da poetisa publicadas em vida é da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN), cuja ideia já era cogitada desde antes do começo da pandemia. A diretora da EDUFRN, professora/doutora Maria da Penha Casado Alves, informa que os livros serão lançados na forma física (impressa) em formato individual ou em conjunto agrupados em uma alça, além da versão digital (e-book).

O lançamento oficial da “Coleção Zila, Toda poesia” será nesta sexta-feira, dia 19 de maio de 2023, a partir das 16 horas na Biblioteca Central da UFRN, que simbolicamente leva o nome de sua primeira diretora, ninguém menos do que a própria Zila Mamede. Haverá uma mesa-redonda constando os nomes da poeta Marize Castro, da professora Marise Mamede (sobrinha da autora) e Alexandre Alves (Professor de Letras da UERN, crítico literário e pesquisador da obra de Zila Mamede).

O QUE: Coleção Zila Mamede, Toda Poesia
ONDE: Biblioteca Central da UFRN Zila Mamede  
QUANDO: 19 de maio, sexta-feira, a partir das 16 horas