Glorinha Oliveira em cena no Teatro Alberto Maranhão: Legado de grandes parcerias. Foto Fafá Nobre

Reportagens

A estrela se despede: Morre a cantora Glorinha Oliveira, aos 95 anos

Chamada de Rouxinol potiguar, Glorinha Oliveira deixa uma marca de amor à música de sua terra, a qual escolheu em vez da carreira na TV Tupi

24 de fevereiro de 2021

Por Cinthia Lopes

Uma das mais respeitadas vozes natalenses, chamada de “Rouxinol potiguar” pela sua afinação, além de estrela e diva por toda a trajetória artística, a cantora Glorinha Oliveira morreu nesta quarta-feira (23) aos 95 anos.  A artista estava internada no Hospital Rio Grande, segundo informou o neto Anderson Queiroz. O sepultamento será no Morada da Paz.

Atriz, radialista, produtora, intérprete e compositora, Glorinha Oliveira deixa um legado de dedicação à música, imortalizando muitos compositores norte-rio-grandenses. Nos últimos cinco anos, devido as comemorações de seus 90 anos, tem sua história ressaltada em muitos projetos. Em recortes documentais, álbuns, tributos — o mais recente de Dodora Cardoso. Em programas de tv e na biografia “A Estrela Conta: Memórias de Glorinha Oliveira”, escrita pelo renomado Nelson Patriota, além de um documentário inédito que sairá ainda este ano “O Maestro e a Estrela”, registro de um concerto que celebrou o reencontro dela com o amigo maestro e pianista Waldermar Ernesto Hetzel, há mais de dez anos. Falamos sobre o tema nesta reportagem recente AQUI. Gloria também fez o registro inédito sobre  Auta de Souza, em uma interpretação musical dos versos de Horto, único livro publicado da poeta romântica.

Maria de Oliveira Queiroz nasceu em 27 de novembro de 1925, em Natal.  Era para se chamar Maria da Glória Mendes de Oliveira,  mas foi registrada sem o Glória por descuido do pai, mesmo assim passou a ser chamada assim pelos seus familiares e amigos.  

De acordo com Dicionário da Música Norte-Rio-Grandense, da pesquisadora e acadêmica Leide Câmara, aos três meses de idade,a cantora se mudou para Recife. Aos dez anos de idade, descobriu a música. Em 1935, como cantora mirim, “pisou” o palco da Rádio Clube de Pernambuco. Aos treze anos, de volta a Natal, cantou pela primeira vez no Teatro Carlos Gomes (hoje Teatro Alberto Maranhão), num show beneficente para a construção da Rádio Educadora de Natal–Ren.

  

Verbete do livro Dicionário da Música Potiguar. E reportagem de jornal lembrando A Estrela Canta e em foto de Jaeci. 

Em 1943, assinou contrato com a Ren, tornando-se funcionária da emissora. Atuou como rádio-atriz, descoberta por Genar Wanderley (“O Cacique do Rádio”). Encenou as peças “Intrometida” e “A tempestade”. Casou-se com José Correia de Queiroz – ex-integrante do Conjunto Ases da Lua (1945).

Glorinha dividiu palco com Ademilde Fonseca e os irmãos Agnaldo, Reinaldo e Marli Rayol. Participou dos programas “Domingo Alegre” (durante nove anos), “Vesperal dos Brotinhos” (1951 a 1959) e do humorístico “Mariquinha e Maricota” (uma sátira aos costumes de Natal).

Em 1952, foi convidada pelo jornalista Edilson Cid Varela (Superintendente dos Diários e Emissoras Associadas) para representar as regiões Norte e Nordeste nas inaugurações da TV Tupi, do Rio de Janeiro e da TV Tupi, de São Paulo. Dividiu o palco com artistas como Ângela Maria, Cauby Peixoto, Linda e Dircinha Batista. Na ocasião, foi acompanhada pelo maestro Cipó, da TV Tupi.

Em 1954, foi inaugurado o fã clube de Glorinha Oliveira, na Avenida 10 (bairro do Alecrim, em Natal) com a presença de Genar Wanderley. Dona de voz afinada, considerada o “Rouxinol Potiguar”, Glorinha Oliveira passou por várias gerações musicais do Estado.

TV TUPI

Ao ser convidada para morar em São Paulo e trabalhar na TV Tupi, a cantora recusou o convite e continuou morando em Natal. Em junho de 1975, Glorinha Oliveira realizou show na Associação dos Professores Universitários do Rio Grande do Norte – Apurn. Cantou acompanhada pelos filhos José Correia de Queiróz Filho (violão) e Aérsio Flávio de Oliveira Queiróz (gaita), além do cantor Expedito. Na platéia estava o seresteiro Yêdo Wanderley.

Em maio de 1981, cantou ao lado de Ângela Maria na Festa dos Coroas, na Casa da MPB. Em 1983, Glorinha Oliveira trabalhou na Rádio Trairy, onde apresentava o programa “Rádio Mulher”, dedicado à mulher natalense. Nesse mesmo ano, no mês de julho, o ator e diretor de teatro Jesiel Figueiredo e o compositor Enoch Domingos montaram o espetáculo “A estrela canta”, para homenagear a cantora-atriz.

Em outubro de 1986, apresentou-se no Projeto Pixinguinha, em Natal, ao lado de Leny Andrade – cantora carioca lançada pelo compositor potiguar Hianto de Almeida. No ano de 1987, lançou o LP Glorinha Oliveira, produzido pelo músico Fernando Luiz, seu parceiro na música Cidade amor, incluída no repertório do Coral das 400 Vozes, formado para homenagear o Quarto Centenário de Natal, em 1999.

Em maio de 1990, fez temporada com o cantor e compositor potiguar Paulo Tito, no Hotel Vila do Mar, em Natal. na via costeira. O cantor Reynaldo Rayol produziu, em 1993, o LP 50 anos de música e glória, para comemorar os cinqüenta anos da carreira artística da cantora. Apresentou o espetáculo “Na era do rádio”, em novembro de 1995, no palco do Teatro Alberto Maranhão, com a proposta de reviver os tempos áureos do rádio potiguar.

Participou do programa “Canto Geral”, da TV Universitária, em 1996, apresentado por Lucinha Lyra.  Realizou em novembro de 1997, no Teatro Alberto Maranhão, o show “Meu tempo” – uma retrospectiva de sua carreira artística. nos tempos da Rádio Poti.

Participou do Projeto Seis e Meia, da Fundação José Augusto, no Teatro Alberto Maranhão, em maio de 1998, acompanhada pelo maestro Waldemar Ernesto (responsável pela Orquestra da Rádio Poti nos anos de ouro do rádio em Natal) – o cantor Moacir Franco se apresentou na mesma noite.

Em dezembro de 1999, no Teatro Alberto Maranhão, Glorinha Oliveira cantou no Projeto Seis e Meia Especial, com Agnaldo Rayol e Marina Elali. Gravou em 1999 o CD Meu tempo, com produção e participação especial do músico potiguar Heraldo Palmeira, além da participação de Ademilde Fonseca, Mingo Araújo e Babal.

O disco é apresentado pelo jornalista e escritor Vicente Serejo: “(...) Glorinha em verdade é o referencial estético de uma geração. Sem ela, teríamos perdido nossa memória afetiva. (...)”. O lançamento do CD, em primeiro de outubro de 1999, foi realizado com um show no pátio da CBTU, no bairro da Ribeira. Com o CD Meu tempo, Glorinha Oliveira recebeu o II Prêmio Hangar, de 1999, idealizado pelo produtor cultural Marcelo Veni, na categoria Melhor CD de Músico Local.

Glorinha Oliveira, ao longo da sua carreira, imortalizou canções, como Mulata Rosinha. Com seu estilo romântico, gravou músicas de nomes como Fernando Luiz, Antônio 7 Cordas, Leocádio Trindade, Pedrinho Mendes, Heraldo Palmeira, Diógenes da Cunha Lima, Nelson Freire, Babal, João Salinas e Célio Ferreira.

Fonte: Dicionário da Música Potiguar, de Leide Câmara